Por Bulent Usta
ISTAMBUL (Reuters) - O presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, disse nesta sexta-feira que a União Democrata-Cristã, da chanceler alemã, Angela Merkel, é inimiga da Turquia e pediu para os turcos na Alemanha votarem contra os principais partidos nas eleições do próximo mês.
Os comentários, alguns dos mais duros de Erdogan contra Merkel até o momento, atraíram uma resposta furiosa de Merkel, seu governo e algumas organizações turcas na Alemanha, ilustrando a crescente divisão entre os aliados da Otan e grandes parceiros comerciais.
“Estou convocando todos os meus compatriotas na Alemanha: os democratas-cristãos, o Partido Social-Democrata, o Partido Verde são todos inimigos da Turquia. Apoiem os partidos políticos que não são inimigos da Turquia”, disse Erdogan após orações de sexta-feira em Istambul, pedindo para turcos étnicos na Alemanha “ensinarem uma lição” a estes partidos.
Laços entre Ancara e Berlim se tornaram mais tensos após um golpe fracassado no ano passado, conforme autoridades turcas demitiram ou suspenderam 150 mil pessoas e detiveram mais de 50 mil, incluindo pessoas com nacionalidade alemã.
“Nós não iremos tolerar qualquer tipo de interferência”, disse Merkel em resposta em um evento de campanha na cidade de Herford, enquanto seu ministro das Relações Exteriores, Sigmar Gabriel, descreveu os comentários como interferência “sem precedentes” sobre a soberania da Alemanha.
A Alemanha expressou preocupação de que Erdogan está usando o golpe como um pretexto para reprimir a dissidência. Erdogan, um líder autoritário cujas raízes estão no islã político, acusou a Alemanha de sentimentos anti-turcos e anti-muçulmanos.
Gabriel pediu para turcos étnicos usarem seus votos independentemente. “Vamos mostrar para quem quer nos colocar uns contra os outros que nós não estamos jogando seu jogo”, acrescentou. O líder comunitário Atila Karaborklu acusou Erdogan de querer dividir a comunidade turca na Alemanha.
Os alemães irão às urnas em 24 de setembro para eleições, nas quais Merkel está concorrendo a um quarto mandato. O partido conservador de Merkel tem uma confortável liderança sobre o Partido Social-Democrata, atual parceiro de coalizão e principal rival.