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ESPECIAL-Rivais projetam desempenho melhor diante de incerteza sobre transferência de voto de Lula no Nordeste

Publicado 31.08.2018, 14:56
© Reuters. Outdoor de campanha do candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, em Garanhuns (PE)

Por Eduardo Simões

SÃO PAULO (Reuters) - A provável inelegibilidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a incerteza sobre a capacidade do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad de absorver o voto lulista têm levado rivais a sonharem com um desempenho acima do inicialmente esperado na Região Nordeste.

Lula é considerado até mesmo por adversários imbatível na região, que deu ao PT vitórias expressivas em todas as eleições presidenciais desde 2002, mas sua provável ausência da disputa e o fato de não fazer campanha por estar preso desde abril, somado ao desconhecimento de Haddad no Nordeste, colocam um fator de incerteza no resultado eleitoral deste ano sem, entretanto, abalar o favoritismo petista.

"A gente tem o desafio de ter um desempenho superior ao da eleição passada. Não é uma coisa impossível", disse à Reuters o prefeito de Salvador, Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM), coordenador da campanha do candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, Geraldo Alckmin.

Em 2014, Aécio Neves (PSDB) obteve 15,4 por cento dos votos válidos na região no primeiro turno. Já no segundo turno, o tucano ficou com 28,3 por cento dos votos válidos no Nordeste, enquanto a petista Dilma Rousseff se reelegeu depois de conquistar 71,7 por cento dos votos nordestinos.

"Se Lula fosse candidato, fatalmente seria mais difícil. Haddad é um ilustre desconhecido na região. Se soltar ele na rua na Bahia, ninguém sabe quem é", acrescentou.

Embora ACM Neto tenha reconhecido que a campanha de Alckmin não tem um foco específico no Nordeste, o tucano iniciou sua pré-campanha em junho com visitas às duas maiores festas de São João: Caruaru, em Pernambuco, e Campina Grande, na Paraíba, duas cidades comandadas por prefeitos tucanos.

A campanha de Alckmin, disse ACM Neto, também elabora propostas específicas para o Nordeste e o próprio candidato, que na semana passada foi a Petrolina (PE) fazer evento de campanha e gravar programa eleitoral, tem afirmado que, se eleito, priorizará investimentos públicos na região. Nesta sexta e no sábado o tucano tem agenda no Ceará.

Alckmin ainda patina nas pesquisas, especialmente no Nordeste. De acordo com levantamento do Datafolha, nacionalmente o tucano tem 9 por cento das intenções de voto no cenário sem Lula e, nesta mesma hipótese, soma apenas 5 por cento no Nordeste. Ele aposta na campanha no rádio e na TV, onde terá o maior tempo de exposição para crescer.

Uma liderança tucana nordestina, que falou sob condição de anonimato, no entanto, avalia que Alckmin deveria deixar o Nordeste de lado neste momento e se concentrar em garantir a vitória "em casa", nas Regiões Sul e Sudeste, especialmente, em São Paulo, onde as pesquisas o colocam numericamente atrás de Jair Bolsonaro, do PSL, ainda que em empate técnico.

"Alckmin tem que fazer o dever de casa em São Paulo. Em 2014, quem derrotou o Aécio não foi o Nordeste brasileiro, foi Minas", disse essa fonte, lembrando da derrota do então candidato tucano em seu Estado natal.

"Acho que o Nordeste ele tem que cuidar no segundo turno, se ele chegar lá, se Deus quiser."

BENEFICIÁRIOS DA AUSÊNCIA

Maiores herdeiros do espólio eleitoral de Lula, a candidata da Rede, Marina Silva, e o postulante do PDT, Ciro Gomes, dobram de intenção de voto no cenário sem o ex-presidente em comparação com a hipótese em que Lula seria candidato, segundo o Datafolha.

No Nordeste, o crescimento é ainda maior: Marina quase multiplica por quatro sua intenção de voto quando Lula sai da equação, e Ciro se aproxima de triplicar a preferência.

Bolsonaro, por sua vez, tem variação dentro da margem de erro quando o nome de Lula é retirado, tanto nacionalmente como no recorte apenas pelo Nordeste.

Sem o ex-presidente, Marina lidera no Nordeste, de acordo com o Datafolha, e Ciro fica numericamente empatado na vice-liderança com Bolsonaro.

Ciro tem o trunfo de ser da região --foi prefeito de Fortaleza e governador do Ceará-- e, de acordo com o presidente do PDT, Carlos Lupi, a ida de votos de Lula para o pedetista seria "natural", já que aposta que Haddad terá dificuldades em herdar esse capital político.

"Se a gente tem memória, precisa lembrar que o Lula lançou a Dilma logo depois de ser reeleito. Ela era a toda-poderosa, chefe da Casa Civil, mãe do PAC", disse Lupi à Reuters.

"Isso é uma coisa. Outra coisa é sem os 44 mil cargos de confiança do governo, sem os 80 por cento de aprovação que tinha o Lula --ainda é alto, mas não é mais tanto. E isso em 45 dias de campanha", afirmou, acrescentando que, nas próximas semanas, Ciro deverá visitar cinco Estados nordestinos e, até o primeiro turno, terá ido aos nove Estados da região.

Marina, por sua vez, tem buscado aliar sua tradicional agenda ambiental com um discurso voltado para o desenvolvimento econômico nordestino. Ela pretende, por exemplo, investir no potencial regional para energia solar e eólica e afirma que o Nordeste, assim como o Norte, de seu Acre natal, serão prioridades caso vença as eleições.

"O Norte e o Nordeste não são problema, são soluções", disse Marina a jornalistas após participar de sabatina em São Paulo nesta semana.

"E no Nordeste tem espaço também para a agricultura, tanto de grande, quanto de pequeno, para a inovação tecnológica, para a indústria. O Norte e o Nordeste serão prioridade, sim, porque são regiões importantes do nosso país", acrescentou a candidata da Rede, que prometeu ainda auxílio do governo federal aos Estados nordestinos que sofrem com a criminalidade.

Para o cientista político Adriano Oliveira, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que aposta em taxa de transferência "altíssima" de Lula para Haddad, Marina e Ciro deverão sofrer com a pouca estrutura de campanha.

"Nas capitais (do Nordeste) Bolsonaro é mais forte, mas ele também tende a sumir, porque tem pouco tempo de TV, vai sumir dos debates", afirmou.

O especialista aposta em um segundo turno entre o candidato ungido por Lula, de um lado, e Alckmin, de outro, e vê o desempenho de Bolsonaro no primeiro turno no Nordeste como um fator importante para uma eventual vitória tucana na segunda rodada de votação.

© Reuters. Outdoor de campanha do candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, em Garanhuns (PE)

"Se Bolsonaro tiver uma boa votação no primeiro turno (no Nordeste), esses votos vão para Alckmin no segundo turno. Aí isso pode garantir a vitória dele. Mas hoje eu acho que segundo turno está zero a zero. Tem que esperar um pouco", disse.

(Edição de Maria Pia Palermo e Alexandre Caverni)

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