SÃO PAULO (Reuters) - A ex-primeira-dama Marisa Letícia foi velada neste sábado na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo (SP), onde ela conheceu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 1973, em uma cerimônia que reuniu familiares, políticos e populares.
O velório teve início às 9h e será seguido por um rito de cremação reservado à família no Cemitério Jardim da Colina, de acordo com o Partido dos Trabalhadores (PT).
O ex-presidente Lula, visivelmente abatido, recebeu gestos de solidariedade de diversos políticos e do público na sede do sindicato, onde houve fila de pessoas para cumprimentá-lo e prestar condolências.
O velório recebeu políticos e autoridades como a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB), o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), os ex-ministros do governo Lula, Luiz Marinho, Gilberto Carvalho e Miguel Rosseto, e o vereador de São Paulo Eduardo Suplicy (PT).
Centenas de sindicalistas e militantes do PT, muitos deles com bandeiras, também foram à cerimônia.
A ex-primeira-dama morreu na sexta-feira aos 66 anos, no Hospital Sírio-Libanês, onde estava internada desde 24 de janeiro depois de sofrer um acidente vascular cerebral hemorrágico por conta da ruptura de um aneurisma.
Marisa, cujo caixão foi coberto por uma bandeira do Brasil e outra do PT, recebeu uma última homenagem de Lula na forma de uma coroa de flores.
"Minha galega, agora o céu ganha a estrela que iluminou a minha vida. Lula", escreveu o ex-presidente.
O presidente Michel Temer, que visitou Lula na quinta-feira, quando Marisa Letícia já havia sido diagnosticada com morte cerebral, decretou luto oficial de três dias devido ao falecimento da ex-primeira dama.
Lula e Marisa, que eram ambos viúvos quando se conheceram, casaram no civil em maio de 1974. Eles tiveram três filhos, e um filho do primeiro casamento de Marisa foi oficialmente adotado por Lula aos 10 anos.
Marisa, que também tinha cidadania italiana e era chamada carinhosamente por Lula de "galega", acompanhou o marido em toda a sua trajetória política, desde as greves no final da década de 1970, passando por uma prisão em 1980 e pela fundação do PT, além das campanhas eleitorais. Ela foi responsável por confeccionar a primeira bandeira do PT.
TENSÃO POLÍTICA
Apesar do clima de tristeza e solidariedade, o velório de Marisa Letícia também teve momentos de tensão política, em meio a um momento em que Lula e a ex-primeira-dama estavam no alvo de investigações da Operação Lava Jato, que apura um enorme escândalo de corrupção no Brasil.
Uma equipe da TV Globo chegou a ser hostilizada por militantes do PT do lado de fora do velório, segundo vídeos postados nas redes sociais. A emissora é acusada por eles de parcialidade contra Lula.
Os advogados de Lula também levantaram questões políticas em uma nota na sexta-feira, na qual afirmaram que "Marisa não poderá, lamentavelmente, ver triunfar o reconhecimento de sua inocência por um juiz imparcial".
Marisa Letícia era ré na Justiça Federal no Paraná em ações penais ligadas à operação Lava Jato.
Em uma delas, o juiz Sérgio Moro aceitou denúncia contra o ex-presidente e a ex-primeira-dama por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso envolvendo um tríplex no Guarujá que teria sido destinado a Lula. Em dezembro, Moro aceitou mais uma denúncia apresentada pelo MPF contra Lula e Marisa Letícia, em um caso que envolve um terreno que seria destinado ao Instituto Lula e um apartamento em São Bernardo do Campo.
A defesa do ex-presidente nega todas as acusações e afirma que Lula é alvo de perseguição política.
"Marisa teve sua casa invadida por um exército de policiais e viu sua vida e intimidade, assim como a de seus filhos e netos, expostas na mídia nacional e internacional. Os danos foram insuperáveis", afirmaram os advogados de Lula, Cristiano Zanin Martins, Valeska Teixeira Martins, Larissa Teixeira e Roberto Teixeira.
Segundo eles, a consequência jurídica do falecimento de Marisa Letícia "será a extinção, em relação a ela, das duas ações penais propostas - de forma irresponsável - pelo Ministério Público Federal".
(Por Luciano Costa)