Por Ricardo Brito e Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O ex-ministro Geddel Vieira Lima, preso pela Polícia Federal nesta sexta-feira, continuou a praticar crimes e agiu de forma "sorrateira" ao esconder mais de 51 milhões de reais em espécie --apreendidos pela PF-- em um apartamento de um conhecido em Salvador, disse o juiz federal Vallisney de Souza Oliveira no despacho que determinou a prisão preventiva de Geddel.
Ao classificar o fato como "gravíssimo", o juiz da 10ª Vara Federal de Brasília disse que o regime de prisão domiciliar de Geddel não garante que ele não volte a praticar delitos. Para o magistrado, isso nota-se pela "dinheirama" encontrada, sem documentação e sem comprovação de origem, perto da residência em que se encontrava desde julho até então.
"A decretação da prisão preventiva de Geddel Quadros Vieira Lima se impõe dentro desse novo contexto de reiteração delitiva ao ser localizado, no apartamento objeto de busca e apreensão em Salvador/BA, mais de cinquenta milhões de reais, mesmo estando o investigado em cumprimento de prisão domiciliar, medida esta que se torna agora ineficaz para garantia da ordem pública, aplicação da lei penal e conveniência da instrução criminal", disse Vallisney, em sua decisão.
Para o magistrado, não há, diante das novas circunstâncias, nenhuma possibilidade de assegurar que Geddel esteja cumprindo e possa cumprir "rigorosamente todos os requisitos da cautela".
"Aliás, como se pode ver, tudo evidencia que não está executando fielmente a medida alternativa à prisão, pois foram encontradas fragmentos de impressões digitais no material apreendido, e tanto de Geddel quanto de Gustavo Pedreira", disse o magistrado, também se referindo a um aliado do ex-ministro preso nesta sexta.
O juiz afirmou que, tanto quando Geddel foi ouvido pela Polícia Federal e por ele mesmo anteriormente, ele não revelou que era dono do dinheiro apreendido nem deu sequer indicação nesse sentido.
"De modo que reitera na atividade delituosa de lavagem de capitais e outros delitos de forma sorrateira, em estado de permanência, pois os valores estavam ocultos em um apartamento cuja finalidade era exclusivamente para guardá-los", disse o juiz.
Para Vallisney, que já havia decretado no início de julho prisão preventiva de Geddel, convertida depois em domiciliar, são "fortes" os indícios da prática do crime de lavagem de dinheiro pelo ex-ministro. Há também indícios do cometimento de outros crimes sob investigação, como organização e criminosa e corrupção, por Geddel e por seu aliado preso, acrescentou o juiz.
O juiz determinou também a realização de busca e apreensão no apartamento da mãe do ex-ministro por considerar que há "grande probabilidade" de que possa existir alguma prova documental relacionada à apreensão dos 51 milhões de reais. Ele destacou que a Polícia Federal alertara para o fato de que Geddel e ela residiam no mesmo prédio, o que pode facilitar que se esconda elementos de prova para as apurações.
Aliado histórico de Temer e bastante próximo do presidente, Geddel foi preso em 3 de julho, acusado de tentar pressionar o doleiro Lúcio Funaro para evitar que ele fizesse uma delação premiada. O ex-ministro foi solto 10 dias depois para cumprir prisão domiciliar.
Geddel, preso nesta sexta como parte de uma nova fase da operação Cui Buono, é acusado de intermediar a facilitação de crédito para empresas na Caixa quando era diretor de Pessoa Jurídica do banco, durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff.
Geddel, que é ainda ex-deputado federal, também foi ministro da Integração Nacional na gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A apreensão dos 51 milhões de reais em espécie no apartamento que seria usado por Geddel foi a maior do tipo já realizado pela PF.