Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - Interlocutores da futura procuradora-geral da República, Raquel Dodge, admitem reservadamente que ela se expôs de forma desnecessária ao se encontrar, na noite de terça-feira fora da agenda oficial, com o presidente Michel Temer horas após a defesa do peemedebista ter pedido a suspeição do atual chefe do Ministério Público Federal, Rodrigo Janot, em investigações que o envolvem, disse à Reuters uma fonte ligada a ela.
A justificativa dada por Raquel Dodge e pela assessoria de imprensa do Palácio do Planalto foi de que os dois discutiram a posse dela no cargo em 18 de setembro, uma vez que no dia seguinte Temer vai participar da abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, nos Estados Unidos.
A fonte disse, sob a condição do anonimato, que desde a semana passada Dodge tentava agendar sem sucesso um encontro com Temer para discutir os detalhes da cerimônia.
Na quarta-feira, a segundo a fonte, a futura procuradora-geral recebeu a sinalização do governo de que o encontro poderia ocorrer ao longo do dia no Palácio do Planalto e pediu para ela ficar de prontidão.
Mas ela só foi acionada à noite para ir ao Palácio do Jaburu, em encontro ocorrido fora da agenda, um dos argumentos usados por Janot para contestar a atuação de Temer no episódio da delação de Joesley Batista, da JBS (SA:JBSS3).
POSSE NO PLANALTO
A tendência, segundo a fonte contou, é que a posse de Raquel Dodge ocorra no Palácio do Planalto e não no auditório da Procuradoria-Geral da República, como ocorreu em algumas posses dos últimos procuradores-gerais.
Isso porque, na avaliação dos cerimoniais das duas instituições, seria mais fácil atender no Planalto todo o protocolo de segurança exigido para o comparecimento do presidente e, além disso, conjugar com a demanda de Temer que precisará viajar logo em seguida para fora do país.
Desde a semana passada, o debate sobre o local da posse da nova procuradora-geral estava sendo travado pela equipe de transição.
Um aliado da nova procuradora-geral reconheceu que o episódio desgastou-a desnecessariamente. Para ele, o momento atual é delicado, mas avalia que Raquel Dodge precisa passar por essas "chuvas" para entender a dinâmica do poder e se precaver em situações como essa.
A atual subprocuradora-geral da República enviou ofício a Rodrigo Janot --tido internamente como seu desafeto-- para explicar a razão do encontro com Temer, a posse dela. Ela também conversou com o presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República, José Robalinho Cavalcanti, sobre o encontro e reafirmou a ele ter ido conversar com Temer a respeito da posse.
TRANSIÇÃO
Por ora, a relação entre as equipes de Raquel Dodge e Rodrigo Janot no período de transição têm sido boas, segundo interlocutores dos dois lados afirmaram à Reuters nos últimos dias.
A nova procuradora-geral tem pedido por escrito informações sobre o gabinete de Janot, tais como número de processos cooperações internacionais realizadas. O objetivo é subsidiá-la de dados para começar os trabalhos logo após a posse.
Apesar de especulações, uma fonte garantiu à Reuters que não há qualquer determinação de Raquel Dodge de fazer uma espécie de "auditoria" no trabalho da equipe de Janot. Destacou ainda não haver como, por exemplo, desconstituir no momento uma eventual delação premiada recentemente homologada pelo Poder Judiciário.
"A Raquel não está querendo ser PGR antes de ser PGR", afirmou uma fonte ligada a ela, ao ressaltar que não há qualquer clima de revisionismo. Segundo a fonte, Raquel vai dar o tom dela somente após a posse, quando poderá atuar em sua "plenitude".