(Reuters) - O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, negou nesta sexta-feira que a Procuradoria-Geral da República (PGR) tenha vazado informações sobre processos sigilosos com o objetivo de pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF), em uma aparente referência à divulgação feita pela imprensa dos pedidos de prisão contra membros da cúpula do PMDB.
Em discurso duro em evento com procuradores eleitorais, em Brasília, Janot negou a pretensão de se candidatar a algum cargo nas eleições de 2018 e rejeitou ainda as críticas de que ele escolheria quais políticos investigar.
"Figuras de expressão nacional, que deveriam guardar imparcialidade e manter decoro, tentam disseminar a ideia estapafúrdia de que o procurador-geral da República teria vazado informações sigilosas para, vejam o absurdo, pressionar o Supremo Tribunal Federal e obrigá-lo a decidir em tal ou qual sentido, como se isso fosse verdadeiramente possível", disse.
"Afirmo, senhores, peremptoriamente. O vazamento não foi da PGR. Aliás, envidarei todos os esforços que estiverem ao meu alcance para descobrir e punir quem cometeu esse crime."
A imprensa divulgou nesta semana que Janot enviou ao ministro Teori Zavascki, relator dos processos ligados à operação Lava Jato no STF, pedidos de prisão contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-RJ), o senador Romero Jucá (PMDB-RR), o ex-presidente José Sarney e o presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Renan, Sarney e Jucá apareceram em áudios gravados pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, alguns deles divulgados pela imprensa, nas quais fazem críticas à Lava Jato.
Cunha, por sua vez, foi afastado do mandato parlamentar da presidência da Câmara por decisão do STF acolhendo argumentação de que ele estaria usando o cargo em benefício próprio. Adversários do deputado afirmam que ele continua a manobrar mesmo afastado.
Janot, que também rejeitou no discurso a possibilidade de ser candidato em 2018, seja para um cargo no Executivo, seja no Legislativo, disse pautar sua atuação pelo ditado popular que diz que "pau que dá em Chico, dá em Francisco".
"Nunca terei transgressores preferidos, como bem demonstra o leque sortido de autoridades investigadas e processadas por minha iniciativa perante a Suprema Corte", garantiu.
"Da esquerda à direita; do anônimo às mais poderosas autoridades, ninguém, ninguém mesmo, estará acima da lei, no que depender do Ministério Público. Assim exige a Constituição. Assim exige a República."
(Por Eduardo Simões, em São Paulo)