RIO DE JANEIRO (Reuters) - O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, chamou empresários do setor de distribuição de combustíveis de "inescrupulosos" em entrevista nesta terça-feira à rádio CBN, e disse que eles vão pagar pelo que afirma ser um locaute que está por trás da paralisação dos caminhoneiros que entrou no nono dia.
“Você pode ter certeza de que a partir de hoje, nós vamos começar a encontrar esses infiltrados, nós vamos multar essas empresas, que serão 100 mil reais por hora, e o Cade também vai entrar nessa parada fazendo com que essas empresas de um lado, e pelo outro lado através da Polícia Rodoviária Federal, eles saibam exatamente o que vão pagar, o preço que terão que pagar por esse sofrimento que impuseram à toda população brasileira”, disse o ministro à rádio.
Segundo Jungmann, o governo considera ter atendido as demandas dos caminhoneiros por meio de um pacote de medidas em resposta às principais exigências da categoria, como a redução do preço do óleo diesel, e que a continuidade das paralisações se deve a um locaute.
O ministro afirmou que uma investigação ampla está em andamento para descobrir os movimentos políticos que estariam infiltrados na paralisação dos caminhoneiros com a tentativa de atingir o governo e a estabilidade do país.
Jungmann afirmou que o Brasil "não pode ficar à mercê" de caminhoneiros autônomos manipulados por "empresários "inescrupulosos" do setor de distribuição de combustíveis.
Os duros comentários do ministro sobre distribuidoras foram recebidos com surpresa pela associação que representa as distribuidoras de combustíveis, a Plural (ex-Sindicom), que chegou a apontar para uma possível confusão do ministro entre distribuidoras e transportadoras de combustíveis.
Questionado pela Reuters se mantinha a declaração sobre as distribuidoras, Jungmann respondeu, por mensagem, que sim, mas acrescentou as transportadoras também estão entre as empresas responsáveis pelo que afirma ser um locaute.
"As duas (transportadoras e distribuidoras), mas não todas, é claro, mas várias", disse. Um locaute, que é proibido por lei, ocorre quando empresários impedem funcionários de trabalhar.
O conselheiro da Plural Ricardo Mussa ressaltou, no entanto, que não faz sentido o setor de distribuidoras apoiar o movimento de paralisação dos caminhoneiros, uma vez que "não tem um setor mais prejudicado que o de combustíveis" nessa crise.
"Acreditamos que tenha havido uma confusão. Acho que ele (Jungmann) tenha se referido às transportadoras. Como setor, já deixamos de faturar 11 bilhões de reais e deixamos de abastecer 3 bilhões de litros. São 3 bilhões de litros que não foram para o mercado desde o início da crise. Não faz sentido apoiarmos esse movimento", disse Mussa à Reuters.
"Fomos elogiados pelo governo para resolver essa crise. Estamos desde o início buscando a retomada, a normalidade", acrescentou.
O conselheiro informou ainda que a Plural está buscando uma audiência com o ministro da Segurança Pública para tentar esclarecer as declarações de Jungmann.
(Por Pedro Fonseca e Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro; e José Roberto Gomes, em São Paulo)