RIO DE JANEIRO (Reuters) - O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, elogiou as polêmicas declarações do comandante do Exército brasileiro, general Eduardo Villas Bôas, que se posicionou contra a impunidade no país, um dia antes do julgamento do habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Para Jungmann, o general fez uma defesa da institucionalidade, da Constituição e que as regras do jogo têm que ser cumpridas no país. O ministro disse que conversou com Villas Bôas nas últimas horas pelo telefone e a declaração do comandante do Exército visava pedir serenidade ao país em um momento de divisão de opiniões e polarização de ideias, especialmente no campo político.
“Se o general fala em nome da serenidade e de respeito às regras, acho que é correto e bom falar para que o clima de polarização e radicalízação, que preocupa todos nós, possa ser encaminhado constitucionalmente", disse Jungmann, que já foi ministro da Defesa.
“Eu conversei com ele e elogiei a mensagem dele que é voltada para serenidade e legalidade…. esse é o nosso espírito. Serenidade, legalidade e respeito à constituição e a todas as decisões tomadas pelas instituições”, frisou o ministro.
As declarações do general provocaram alarme em autoridades e críticas dos que viram na fala um comentário indevido de um militar em assuntos do Judiciário. Nesta quarta-feira, o STF julga o habeas corpus de Lula, condenado a 12 anos e 1 mês de reclusão no caso do apartamento tríplex do Guarujá.
CHANCE NEGATIVA DE GOLPE
Ao ser questionado se a manifestação poderia sinalizar uma volta dos militares ao poder, como ocorreu no golpe de 1964, Jungmann rechaçou a possibilidade.
“De zero a dez a chance é menos um. As Forças Armadas são um ativo democrático no Brasil de hoje e o comportamento delas tem sido impecável“, declarou Jungmann. “Não vejo ninguém propor o passado ou querer voltar ao passado. Isso não tem o menor curso.”
O ministro não quis se posicionar se considera correto a prisão de condenados em segunda instância, fato que será analisado nessa quarta-feira pelo STF sobre o ex-presidente Lula. Jungmann afirmou que “nesse momento seria inadequado que um ministro expressasse sua opinião”, mas no futuro poderá se manifestar.
Jungmann participou nesta quarta-feira de um evento social na entrada da Rocinha, favela localizada em São Conrado, zona sul do Rio de Janeiro. Há mais de seis meses, traficantes rivais estão em um conflito que já matou mais de 60 pessoas entre bandidos, moradores e policiais.
O ministro da Segurança Pública afirmou que ainda é cedo para achar que o Rio de Janeiro está no caminho de vencer a violência, mas acha que já está no caminho certo com a intervenção federal na área de segurança.
Ele citou que as estatísticas da criminalidade já começam a surtir efeito, embora dados oficiais mostram para um primeiro bimestre de recordes em alguns índices como roubo de cargas.
A intervenção na área de segurança começou na segunda quinzena de fevereiro e a verba federal para ajudar o Rio de Janeiro no setor, de 1,2 bilhão de reais, ainda não foi efetivamente repassada. Segundo ele, o repasse deve ocorrer nos próximos dias.
“Estamos vencendo essa batalha, que vai ser longa e levar bastante tempo, de combate ao crime no Rio e sei que a percepção não é generalizada, quando dia a dia as pessoas se deparam com fuzis e mortes”, disse.
(Reportagem de Rodrigo Viga Gaier)