(Reuters) - O juiz federal Sérgio Moro aceitou nesta quinta-feira denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal (MPF) contra a mulher do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a jornalista Cláudia Cruz, por suspeita de lavagem de dinheiro e evasão de divisas envolvendo valores oriundos do esquema de corrupção na Petrobras (SA:PETR4) investigado pela operação Lava Jato.
A mulher de Cunha agora se torna ré por acusação de lavagem de dinheiro de mais de 1 milhão de dólares provenientes de crimes praticados pelo presidente suspenso da Câmara dos Deputados, de acordo com os procuradores da força-tarefa da Lava Jato no MPF.
O próprio Cunha também é réu pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, em ação que corre no Supremo Tribunal Federal (STF), acusado de receber ao menos 5 milhões de dólares em propina de contratos da Petrobras.
"Os recursos que aportaram na conta de Cláudia Cruz foram utilizados, por exemplo, para pagar compras de luxo feitas com cartões de crédito no exterior", disseram os procuradores, apontando que mais de 850 mil dólares foram gastos, dentre outras coisas, para a aquisição de artigos de luxo como bolsas, sapatos e roupas femininas.
"Investigações apontaram que Cláudia tinha plena consciência dos crimes que praticava", acrescentaram.
A denúncia apresentada pelo MPF, que foi aceita na íntegra por Moro, afirma que Cunha foi beneficiário de propina de 1,5 milhão de dólares paga para a aquisição pela Petrobras de 50 por cento de um bloco de um campo de exploração de petróleo na costa do Benin, na África, em 2011.
Segundo o MPF, ficou comprovado a partir de documentos enviados pelo Ministério Público da Suíça que houve pagamento total de 10 milhões de dólares em propina na transação, que foi fechada no total por 34,5 milhões de dólares.
Também foram denunciados na mesma ação o ex-diretor da área internacional da estatal petrolífera Jorge Luiz Zelada, o operador financeiro João Augusto Rezende Henriques, ligado ao PMDB, e Idalecio Oliveira, empresário português proprietário da Companie Beninoise des Hydrocarbures Sarl (CBH), de acordo com o MPF.
Cunha foi afastado do mandato parlamentar e da presidência da Câmara pelo Supremo no mês passado, a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), sob acusação de usar o cargo em benefício próprio.
Segundo reportagens publicadas nesta semana, a PGR pediu ao Supremo a prisão de Cunha, alegando que o afastamento do cargo não foi suficiente para impedir as articulações políticas dele em seu próprio favor.
O deputado afastado também é alvo de um processo no Conselho de Ética da Câmara que pede a cassação de seu mandato.
(Por Pedro Fonseca, no Rio de Janeiro)