SÃO PAULO (Reuters) - O juiz federal Sérgio Moro, que concentra os processos relacionados à operação Lava Jato, disse nesta terça-feira que sozinha a Justiça não será capaz de resolver o problema da corrupção no Brasil e que é necessária a participação da sociedade civil reclamando.
Moro participou de um seminário em São Paulo nesta terça sobre a Lava Jato e a operação Mãos Limpas, que combateu a corrupção na Itália na década de 1990.
O juiz pediu que sua palestra não fosse gravada em vídeo ou em áudio e permitiu apenas que os jornalistas, que tiveram de passar por um rígido esquema de segurança para acompanhar o evento, anotassem a sua fala a mão.
“Sozinha, a Justiça não resolve, precisa que outras instituições funcionem, que a sociedade civil reclame”, disse Moro durante a palestra.
“Se os problemas de corrupção não são enfrentados, eles ficam cada vez maiores”, acrescentou.
O magistrado fez um paralelo entre a Lava Jato e a Mãos Limpas e rebateu argumentos de que a operação italiana não teve sucesso e acabou por abrir caminho para que o polêmico magnata da mídia Silvio Berlusconi fosse eleito primeiro-ministro.
Para Moro, a democracia italiana não se mostrou forte o suficiente à época da Mãos Limpas e a sociedade civil não participou. Moro fez a avaliação, no entanto, de que, ainda assim, o país europeu está melhor do que estaria se a operação não tivesse acontecido.
“Se não fosse pela Mãos Limpas, a Itália estaria melhor? Não acredito”, disse.
Como juiz responsável pelos processos da Lava Jato, Moro tem sido alvo de críticas de partidários do governo e de petistas, principalmente por sua decisão de autorizar a divulgação de conversas interceptadas pela Polícia Federal entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff, assim como a decisão de emitir mandado de condução coercitiva para que Lula depusesse à PF na Lava Jato.
Em ofício encaminhado nesta terça ao ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, que pediu explicações ao juiz federal, Moro reconheceu que a divulgação das conversas gerou "controvérsia" e pediu desculpas pela decisão.
"Diante da controvérsia decorrente do levantamento do sigilo e da... decisão de vossa excelência, compreendo que o entendimento então adotado possa ser considerado incorreto, ou mesmo sendo correto, possa ter trazido polêmicas e constrangimentos desnecessários", escreveu a Teori.
"Jamais foi a intenção desse julgador, ao proferir a aludida decisão de 16 de março, provocar tais efeitos e, por eles, solicito desde logo respeitosas escusas a este egrégio Supremo Tribunal Federal."
(Reportagem de Caroline Satuffer)