Por Lisandra Paraguassu e Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA (Reuters) - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou fortemente a cúpula do PT, na reunião do diretório do partido nesta quinta-feira, para que defenda o governo da presidente Dilma Rousseff, mesmo reconhecendo que o partido precisou "trocar o discurso" depois da reeleição.
"Tivemos problemas políticos sérios que nós temos que encarar e todo mundo sabe que nós temos... nós ganhamos as eleições com um discurso e depois das eleições nós tivemos que mudar o nosso discurso e fazer aquilo que a gente dizia que não ia fazer", admitiu o ex-presidente, numa referência a medidas de ajuste econômico.
Lula defendeu que o partido pode ter uma certa autonomia e não é obrigado a concordar com tudo que o governo faz, mas é preciso dar apoio. "O que a gente não pode é não perceber a situação que nós estamos vivendo e a gente fazer proposta de medida econômica apenas teórica... Tudo isso é muito maravilhoso de a gente fazer quando a economia está crescendo muito", afirmou. Segundo Lula, o partido está fazendo "exatamente o que a oposição quer".
Apesar das informações de que haveria um mal-estar na relação entre o ex-presidente e sua sucessora, Lula foi enfático na defesa de Dilma. "Eu acho que esse diretório tem que lembrar que a companheira Dilma não é candidata dela. A companheira Dilma é candidata de um partido chamado PT com uma coligação muito grande e que portanto todos nós temos a responsabilidade de fazer com que a gente saia dessa situação muito delicada", disse.
AJUSTE
A tarefa principal do PT agora, afirmou, é recuperar a imagem do próprio partido e da presidente. "Não é justo que Dilma esteja passando pelo que está passando. Não é justo pela história dela, pelo caráter, por tudo que representa para nós. Em vez de só ficar vendo defeito temos que cada um de nós virar uma Dilma e se alguém criticar tem que defender", declarou.
"A situação que a gente está vivendo é difícil, mas já vivemos outros momentos difíceis e não desanimamos", disse.
O discurso do ex-presidente demonstra o grau de preocupação com o estado atual da relação entre o governo e o seu partido. O documento inicial que estava sendo desenhado pelo diretório pediria mudanças na política econômica, mesmo deixando de fora pedidos de saída do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que tem sido um dos alvos preferenciais do partido.
Lula pediu para fazer o discurso de abertura do encontro do diretório, um dos únicos momentos ao qual a imprensa teve acesso, e falou por mais de uma hora, defendendo também que o partido cerre fileiras para ajudar o governo a aprovar as medidas de ajuste fiscal, "prioridade zero" nesse momento.
Afirmou que é "humanamente impossível" a presidente governar diante das incertezas e turbulências políticas e o maior trunfo para recuperar o prestígio do partido é a recuperação econômica.
"Eu acho que nós temos que nesse instante ter em conta que a recuperação da economia é o melhor trunfo que nós temos", afirmou. O ex-presidente disse ter notado companheiros que gritam "Fora Levy" como gritavam no passado, "Fora FMI (Fundo Monetário Internacional)".
"Não é a mesma coisa", disse Lula, que também já criticou a política econômica.
CORRUPÇÃO
Em diversos momentos, o ex-presidente admitiu que a situação do governo e do país é complicada, e fez inclusive referências aos casos de corrupção que atingiram o partido. Mas, acima de tudo, cobrou a união em torno da presidente.
"Eu acho que não há por que um petista ficar de cabeça baixa ouvindo ladrão chamar o PT de corrupto. Eu acho que o PT tem que levantar a cabeça. Certamente temos defeitos, temos erros. Mas qual o partido que conquistou mais o direito de cabeça erguida que o nosso partido?", declarou, admitindo, em diversos momentos, que seu partido "já fez coisas erradas".
Lula disse ainda que não há nenhuma dúvida de que o PT sempre combateu a corrupção não só na retórica, mas com dezenas e dezenas de iniciativas. "Nas nossas fileiras nunca permitimos que qualquer pessoa que, comprovadamente, a nosso juízo, tenha transgressões éticas, possa continuar entre nós", afirmou.
Na tarde desta quinta-feira, o PT vai divulgar o documento final do diretório.