SÃO PAULO (Reuters) - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse a uma plateia de sindicalistas nesta quarta-feira que não precisa do cargo de ministro para ajudar o governo da presidente Dilma Rousseff e afirmou que o movimento sindical deve procurar a Lava Jato e o juiz Sérgio Moro para saber dos prejuízos que as investigações causaram à economia.
Durante ato organizado por centrais sindicais, lideradas pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), Lula também afirmou que o pedido de impeachment contra Dilma é um "golpe" e convocou até mesmos os sindicalistas que discordam da política econômica do governo a defenderem o mandato da petista.
"Se enganam aqueles que pensam que eu só posso ajudar a Dilma se eu for ministro", disse Lula aos sindicalistas.
O ex-presidente foi nomeado ministro-chefe da Casa Civil na semana passada, mas teve os efeitos de sua posse suspensos por decisão do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na sexta-feira.
O ex-presidente disse não saber quando será efetivamente empossado no cargo, mas disse que ao participar de ato a favor do governo na avenida Paulista, também na sexta-feira, sentiu-se como se houvesse sido empossado no cargo pelos manifestantes.
Lula reconheceu que existem muitos sindicalistas irritados com a política econômica de Dilma, mas afirmou que, no momento, essas divergências são menores do que o que avalia ser a necessidade de impedir a destituição da presidente, que enfrenta um pedido de abertura de processo de impeachment na Câmara dos Deputados.
"A economia a gente resolve depois ou amanhã. Agora, evitar o golpe é hoje", disse. "Tentar tirar a Dilma agora é golpe, não tem outra palavra."
LAVA JATO
Lula, um dos investigados na operação Lava Jato, que apura um bilionário esquema de corrupção envolvendo a Petrobras (SA:PETR4), empreiteiras, políticos e partidos, também aproveitou o discurso para os sindicalistas para voltar a negar quaisquer irregularidades e para disparar críticas contra a operação.
"Essa operação Lava Jato é uma necessidade para o país. Eles dizem que devem devolver bilhões ao país", disse. "(Mas) eu queria que vocês procurassem a força tarefa (da Lava Jato), procurassem o juiz Moro para saber se eles estão discutindo quanto essa operação já deu de prejuízo à economia brasileira", disparou.
Lula é acusado de ocultar o fato de ser dono de um apartamento tríplex no Guarujá, litoral de São Paulo, e de um sítio em Atibaia, no interior do Estado, que teriam sido reformados com recursos de empreiteiras. Ele nega ser dono dos imóveis.
O ex-presidente teve conversas telefônicas interceptadas pela Polícia Federal e foi obrigado a prestar depoimento na 24ª fase da Lava Jato. Entre os diálogos interceptados estão conversas com Dilma e com o então ministro da Casa Civil, atualmente chefe do gabinete da presidente, Jaques Wagner, ambos detentores de prerrogativa de foro junto ao STF.
(Por Eduardo Simões)