Por Maria Pia Palermo e Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode se tornar assessor especial da Presidência da República se não puder assumir a Casa Civil, disse nesta quarta-feira o chefe de gabinete da presidente Dilma Rousseff, ministro Jaques Wagner, que apontou a antecipação de eleições como um caminho "mais legítimo" para se sair de uma crise de popularidade.
Em entrevista à mídia estrangeira, Wagner voltou a criticar o processo de impeachment contra a presidente, alertando que significará um agravamento da crise econômica e não trará uma solução, como defendem os favoráveis ao afastamento de Dilma.
Deslocado neste mês do comando da Casa Civil para a chefia de gabinete de Dilma de forma a abrir espaço a Lula no ministério, Wagner reconheceu que o PT vive a pior crise no comando do país, mas mostrou confiança de que o governo pode evitar o impeachment na Câmara dos Deputados.
Nessa batalha, considera relevante o papel de Lula para atrair apoios, diz que o ex-presidente é o militante político que sempre foi e está vendo o projeto que ajudou a construir sendo atacado.
"Ele (Lula) está em campo todo o dia como jogador fora da cena política, e eu acho que tem que vir para a cena política porque o embate principal vai ser no Parlamento”, disse Wagner.
Lula foi empossado ministro na semana passada, mas a nomeação foi parar na Justiça devido a uma enxurrada de ações questionando a legalidade de o ex-presidente assumir um ministério no momento em que é alvo das investigações da operação Lava Jato.
O Planalto aposta ainda no poder de Lula para manter o apoio do PMDB. Prestes a anunciar o desembarque do governo, o maior partido da base aliada agravaria ainda mais a situação de Dilma se decidir pelo rompimento.
O partido decidiu manter reunião do seu diretório nacional no dia 29 para definir sobre a permanência ou não no governo, mas o ministro não vê um desembarque, só se for "apenas formal". Wagner disse ter garantias dos ministros peemedebistas de que se manterão à frente dos cargos que ocupam. O PMDB detém sete ministérios.
Para Wagner, o partido está rachado e querendo criar um "fato político". Tendo no governo o vice-presidente Michel Temer, que também preside a sigla, o petista disse considerar no mínimo "intempestivo" o movimento para adotar uma decisão logo e minimizou uma eventual perda de votos na Câmara durante o processo de impeachment.
IMPEACHMENT
Ao fazer uma contabilidade dos possíveis votos de apoio à permanência da presidente no poder, Wagner disse ser preferível trabalhar com que pode dar fidelidade.
"Não digo que a gente vai ter uma base de 250 (deputados). Sou favorável que se concentre e escolha 220, 230 e tenha gente segura com você. Melhor do que trabalhar muito ao largo e acabar gastando muita energia", disse, acrescentando que, pela contabilidade do governo, há votos na Câmara para barrar o impeachment.
“Esse número oscila muito. Nem todo mundo revela, tem gente que está aqui e diz que está lá. É um processo de tensão muito grande. Considero que a gente tem base para superar o impeachment", acrescentou.
Na defesa de eventual antecipação de eleições, o ministro alegou que seria mais legítimo em uma crise de popularidade que se propusesse isso no lugar do impeachment, "pois o governo que vai sentar lá não vai ter legitimidade" no caso de um processo de impedimento.
O ministro ressalvou, no entanto, que antecipar eleições não está previsto na Constituição e que precisaria ser aprovado por meio de emenda constitucional. Wagner disse ainda que a questão não está na pauta do governo.
“Acho que seria mais legítimo, mais transparente, se em uma crise de popularidade ou governabilidade alguém propusesse algo no jogo democrático", disse Wagner. “Impeachment sem crime de responsabilidade... Não vai dar certo”, acrescentou.
(Reportagem adicional de Brad Brooks) 2016-03-23T202134Z_1_LYNXNPEC2M1HD_RTROPTP_1_POLITICA-WAGNER-LULA-ASSESSOR.JPG