Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega propôs ao Ministério Público Federal em Brasília um acordo para evitar que seja preso preventivamente no qual vai atuar como uma espécie de colaborador das investigações da operação Bullish --que apura suspeitas de irregularidades em negócios bilionários do BNDES-- e já se mostrou disposto a citar grandes empresas brasileiras, conforme a Reuters apurou com uma fonte a par das tratativas.
O acordo foi proposto recentemente ao procurador da República Ivan Cláudio Marx, responsável pela apuração. Ele aceitou os termos do acerto, que no momento está pendente de homologação pelo juiz federal Ricardo Leite, da 10ª Vara Federal em Brasília.
A proposta --chamada de "Termo de Ciência e Compromisso"-- prevê que o ex-ministro petista vai ajudar os investigadores com informações. Em troca, Mantega não poderia ser preso preventivamente. Ele não confessa crimes --essa é a grande diferença em relação à delação premiada-- e continua respondendo ao processo normalmente, podendo, no futuro, ser condenado ou absolvido.
Segundo uma fonte, nesse tipo de acordo também não há qualquer previsão de diminuição de pena em caso de eventual condenação de Mantega. Seria uma espécie de acordo de "lealdade processual", no qual o acusado se coloca à disposição de ajudar. Não é a primeira vez que um acerto desses é proposto em investigações de escândalos de corrupção recentes.
Na proposta de acordo, segundo uma fonte, Mantega mencionou fatos que vão além das operações do BNDES que envolvem a JBS (SA:JBSS3), um dos principais focos da investigação da Bullish.
Ele também envolveu a Odebrecht --que, juntamente com a JBS, são duas importantes empresas que também estão na mira da Lava Jato-- e citou as relações que manteve com os marqueteiros João Santana e Mônica Moura --responsáveis pelas campanhas presidenciais de Lula e da ex-presidente Dilma Rousseff.
Em nenhum momento, segundo a fonte, Mantega admite ter atuado para esses grupos empresariais adotando medidas que seriam contrapartidas a eles. Ele foi o ministro da Fazenda mais longevo da história democrática brasileira, ficando no cargo entre 2006 e 2014. Ele também presidiu o BNDES no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.