SÃO PAULO (Reuters) - A candidata da Rede à Presidência, Marina Silva, defendeu nesta terça-feira a necessidade de uma reforma do Judiciário, sem elaborar quais medidas seriam adotadas, e também afirmou que a proposta de reforma política que defende prevê o fim da reeleição e mandatos para o Executivo de cinco anos a partir de 2022.
Em sabatina promovida pelo jornal O Estado de S. Paulo e pela Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) em São Paulo, a candidata da Rede também fez um aceno ao eleitorado feminino ao afirmar que quer tornar-se presidente para que mais nenhuma mulher seja subestimada.
Durante o evento, Marina foi indagada se defenderia uma mudança no processo de escolha de juízes para tribunais superiores, como o Supremo Tribunal Federal (STF), e respondeu que é sim necessária uma reforma do Judiciário, ao mesmo tempo que defendeu que ela seja feita após diálogo entre os Poderes.
"Sem dúvida há também a necessidade de uma reforma do Judiciário", disse Marina durante a sabatina.
"Quando eu penso a composição do Supremo fico avaliando aqueles que mesmo passando por indicação política, cumpriram muito bem o seu papel", acrescentou, citando especificamente os ex-ministros da corte Joaquim Barbosa e Carlos Ayres Britto. Por outro lado, ela defendeu o fim de indicações políticas para a composição de tribunais de contas.
Ao comentar sobre a reforma política, Marina defendeu o fim da reeleição, o mandato de cinco anos para o Poder Executivo a partir de 2022 e a limitação de dois mandatos para o Poder Legislativo.
"A reeleição virou um problema no país. As pessoas não fazem o que é necessário para o país, fazem o que é necessário para se reeleger", afirmou a ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente.
"Eu acredito na reforma política em dois tempos, o primeiro tempo quem faz é a sociedade brasileira... A primeira coisa que acontece é uma mudança de postura, e o cidadão brasileiro tem agora a oportunidade de substituir 200 investigados", afirmou, ao se referir a parlamentares envolvidos em escândalos de corrupção.
Marina também defendeu uma reforma da Previdência com a adoção de uma idade mínima que seria maior para os homens do que para as mulheres. Ela evitou, no entanto, detalhar qual seria essa idade. A presidenciável da Rede também afirmou que essa reforma deveria contemplar um modelo de transição para um modelo de capitalização.
ACENO ÀS MULHERES
Marina também aproveitou o evento, que contou com uma plateia em sua maioria de universitários, para fazer um aceno ao eleitorado feminino, maioria entre os eleitores e que representa parcela importante entre os indecisos.
A candidata da Rede disse que quer tornar-se presidente da República para que as mulheres não sejam mais subestimadas e não precisem mais passar por "frestas", mas por portas para serem bem-sucedidas.
Marina afirmou ainda que, nesta campanha eleitoral, terá uma "fresta" de 21 segundos, se referindo ao tempo que terá na propaganda de rádio e TV e criticou adversários que têm estrutura e recursos maiores para campanha.
"O que é viável mesmo na política? Viável é substituir a população pelo centro? Viável é trocar a coerência pelo tempo de televisão? Viável é se entregar para a mentira do marqueteiro em vez de discutir sinceramente com o povo brasileiro? Essa viabilidade eu não quero", disse ela durante a sabatina.
"Se estão me dando uma frestinha, de 21 segundos, pouco dinheiro, andando em avião de carreira, acordando às quatro e meia da manhã, indo dormir quase todo dia depois de uma da manhã, é por essa frestinha que eu vou passar", afirmou ela.
Em um cenário em que as mulheres são a maioria entre o eleitorado e também representam parcela significativa entre os indecisos, Marina buscou acenar para as eleitoras. A candidata da Rede e Vera Lúcia (PSTU) são as únicas mulheres na corrida presidencial.
"Eu quero falar com as mulheres brasileiras. Eu nunca mais quero ver uma mulher sendo subestimada. Não quero ver uma mulher sendo tratada como se não pensasse, como se não pudesse. Nós podemos, e nós vamos transformar essa fresta em grandes portais de transformação", disse a candidata da Rede.
Marina, que aparece na segunda posição nas pesquisas de intenção de voto nos cenários sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que deve ficar impedido de concorrer pela Lei da Ficha Limpa, teve no debate realizado neste mês pela Rede TV um forte embate com o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, após o adversário afirmar que a disparidade salarial entre gêneros não merecia ser alvo de preocupação.
Bolsonaro, autor de declarações polêmicas, algumas delas apontadas por críticos como misóginas e machistas, tem dificuldade entre o eleitorado feminino, de acordo com as pesquisas.
(Reportagem de Eduardo Simões)