SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - Após anunciar um nome técnico para ser seu braço direito no Ministério de Minas e Energia, o novo titular da pasta Fernando Coelho Filho (PSB-PE) tem agora o desafio de preencher outros postos importantes e com impacto direto em alguns dos setores mais sensíveis da economia brasileira.
Especialistas ouvidos pela Reuters afirmaram que há forte expectativa por esses nomes, justamente pelo fato de Coelho Filho não ser diretamente associado às áreas de atuação do ministério como petróleo e gás, eletricidade e mineração.
Nesta terça-feira, o engenheiro mecânico Paulo Pedrosa, ex-diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e atual presidente da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia e Consumidores Livres (Abrace) para ser o novo secretário-executivo do ministério.
Ainda faltam anúncios para secretarias como a de Petróleo e Gás e a de Energia Elétrica, além do comando da Empresa de Pesquisa Energética e a presidência da Eletrobras (SA:ELET3).
O professor da UFRJ e ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) Helder Queiroz vê com preocupação a falta de experiência e de conhecimentos técnicos do novo ministro.
"O Ministério de Minas e Energia é mais técnico, exige pessoas com conhecimento. As interações se dão com grandes 'players' e grupos organizados como Petrobras (SA:PETR4), Statoil, Neoenergia entre outros. São corporações organizadas que exigem muito de um ministro."
No fim de semana, Coelho Filho reuniu-se com associações do setor elétrico e sinalizou que sua gestão deverá focar a retomada do interesse de investidores no Brasil e a modernização da pasta, com mudanças e novas ideias, segundo relato de participantes do encontro.
O presidente da Apine, associação que reúne empresas de geração de energia, Guilherme Velho, disse que Coelho Filho sinalizou pressa na definição de sua equipe.
Ele falou que tem conversado com muitas pessoas e pretende montar uma equipe muito qualificada... e que espera que até quarta-feira possa já ter nomes."
"Já teve muita gente que sentou lá e não era do setor... o ministro pode fazer um papel importante se ele for um bom interlocutor político, com suporte técnico bom", disse o secretário-executivo do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP), que representa petroleiras no Brasil, Antonio Guimarães.
MUDANÇAS E DIÁLOGO Segundo Velho, o ministro também afirmou às associações que trará mudanças importantes para a pasta, marcando diferenças em relação à gestão anterior.
"Ele até comentou que não vai ficar tentando controlar a taxa de retorno dos investimentos", disse.
Para uma fonte experiente do setor de mineração, o novo ministro, desconhecido dos setores da pasta, foi escolhido para contribuir com a harmonia da gestão do presidente interino, Michel Temer.
"Temer formou um gabinete para apoiá-lo na aprovação de reformas que serão propostas pelo ministro técnico, Henrique Meirelles", apontou a fonte, na condição de anonimato.
O diretor-executivo da Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar), Rodrigo Sauaia, que também esteve no encontro com o novo ministro, destacou que ele fez menções à disposição para o debate e para trazer mudanças. "Ele fez menções diretas a isso, de que esse diálogo seria levado a sério", afirmou. "Ele tem um perfil mais político, mais gestor, e também mais aberto ao novo. Tem potencial para inovar e tirar o setor elétrico da inércia, isso é algo positivo."
Com apenas 32 anos e no terceiro mandato na Câmara dos Deputados, onde liderava a bancada do PSB, Coelho Filho é visto como parlamentar com forte articulação política, que se credenciou para o cargo ao ajudar na conquista de votos do partido a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Com a nomeação para Minas e Energia, ele ainda encerrou mais de uma década de domínio do PMDB sobre a pasta, antes ocupada por Eduardo Braga (PMDB-AM), Edison Lobão (PMDB-MA), Marcio Zimmermann (PMDB-SC) e Silas Rondeau (PMDB-MA). DESAFIOS Na chegada ao ministério, um dos principais desafios de Coelho Filho envolve a estatal Eletrobras, que tem acumulado prejuízos bilionários desde 2013 e está atrasada com a entrega de informações à reguladora do mercado de ações norte-americano, Securities and Exchange Commission (SEC).
A estatal precisaria enviar até 18 de maio o formulário 20-F referente aos anos de 2014 e 2015, ainda não concluídos devido a investigações em andamento sobre eventual prática de corrupção e cobrança de propinas em projetos como a hidrelétrica de Belo Monte e a usina nuclear de Angra 3.
O ministro também precisará trabalhar para a retomada do setor de petróleo, duramente impactado pelos baixos preços da commodity no cenário global e pelas investigações de corrupção envolvendo ex-executivos da Petrobras e das principais empreiteiras do país, além de políticos e partidos políticos.
A petroleira estatal vive um momento financeiro complicado, com dívidas de centenas de bilhões de dólares.
Antonio Guimarães, do IBP, frisou que a indústria teve interações com Temer e que o presidente interino conhece as principais demandas do setor.
"Eles conhecem e demonstram sensibilidade para resolver as questões. As sinalizações já existem, mas tem que agora sentar para conversar", afirmou Guimarães, explicando que já pediu uma reunião com Coelho Filho.
No setor de mineração, há a grande tarefa de concluir reformas regulatórias necessárias, adiadas por anos, e também cuidar dos desdobramentos do pior desastre ambiental da história do país, com o rompimento de uma barragem em Mariana (MG) da mineradora Samarco, joint venture da Vale (SA:VALE5) e da BHP Billiton.
(Por Luciano Costa, Marta Nogueira e Rodrigo Viga Gaier)