Por Karla Mendes
RIO DE JANEIRO (Thomson Reuters Foundation) - Um número recorde de candidatos indígenas disputará cargos federais e estaduais nas eleições de domingo, o que ativistas afirmam ser uma tendência diante da falta de cumprimento dos direitos territoriais da população indígena garantidos por lei.
O número de candidatos autodeclarados indígenas subiu quase 50 por cento, chegando a 131 este ano, contra 89 registrados nas eleições de 2014, de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) compilados pelo Instituto Socioambiental (ISA).
"Há ameaças reais contra os nossos direitos territoriais", disse Valeria Paye Pereira, coordenadora-executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).
"O tema indígena é muitas vezes colocado em pauta sem a nossa representação. Então decidimos ir para o embate dentro do Congresso com alguém nosso".
O Brasil tem sido palco de diversas mortes por conflitos de terra, expondo o embate entre a preservação da cultura indígena e o desenvolvimento econômico.
O cacique Mário Juruna foi o primeiro político indígena a chegar ao Congresso, eleito deputado federal em 1982 pelo PDT-RJ.
Uma das candidatas mais promissoras da votação de domingo é Joenia Wapichana, advogada de Roraima e candidata a deputada federal pela Rede-PR, que atua na defesa dos direitos dos povos indígenas há mais de duas décadas.
"Nunca tinha entrado na política, nem tinha partido político. Mas achei o desafio oportuno e aceitei o convite porque os nossos direitos estão sendo ameaçados", disse Wapichana, a primeira advogada indígena do país.
"Se não formos nós, ninguém vai nos defender. Por mais que a gente tenha aliados (no Congresso) nunca é a mesma coisa", disse à Thomson Reuters Foundation por telefone.
Francisco Pianco --que defende os direitos indígenas no Acre e trabalhou na sede da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Brasília-- também está na disputa como candidato a deputado federal pelo PSOL-AC.
"Saí candidato agora porque me senti chamado pra fazer o enfrentamento, a defesa dos nossos direitos", disse. Se ganhar, "o mandato não vai ser meu. É o mandato da floresta", acrescentou.