Por Jeff Mason e Matt Spetalnick
HAVANA (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, desafiou o governo comunista de Cuba com um clamor apaixonado por mudanças democráticas e econômicas nesta terça-feira, dirigindo-se diretamente ao público cubano em um discurso histórico transmitido para toda a ilha.
Subindo ao palco do Grande Teatro de Havana na presença do presidente cubano, Raúl Castro, Obama aproveitou o momento que coroou sua visita para estender uma "mão de amizade". Ele foi, disse, "enterrar o último vestígio" da Guerra Fria nas Américas.
Mas Obama também fez pressão forte por reformas políticas e econômicas e mais abertura, falando em um Estado de partido único onde poucas manifestações de discórdia são toleradas.
Seu discurso foi o ponto alto de uma viagem possibilitada por seu acordo com Raúl em dezembro de 2014, que varreu décadas de hostilidade iniciadas pouco depois da revolução cubana de 1959, e pelo trabalho de normalização das relações. Mesmo assim, Obama não economizou palavras em seu apelo por mudanças.
"Acredito que cidadãos deveriam ter liberdade de falar o que pensam sem medo", afirmou o mandatário à plateia. "Os eleitores deveriam poder escolher seu governo em eleições livres e democráticas".
"Nem todos concordam comigo nisso, nem todos concordam com o povo norte-americano nisso, mas acredito que estes direitos humanos são universais. Acredito que são direitos do povo norte-americano, do povo cubano e de povos de todo o mundo", disse Obama.
Embora tenha pedido o fim do já antigo embargo econômico dos EUA a Havana, Obama acrescentou que "mesmo que encerremos o embargo amanhã, os cubanos não irão desenvolver seu potencial sem mudanças contínuas aqui em Cuba".
A visão de um líder dos EUA, a superpotência do norte outrora repudiada de forma rotineira pelo governo de Cuba, em solo cubano exortando tais mudanças teria sido impensável antes de os dois países iniciarem sua reaproximação.
Os líderes da ilha caribenha passaram anos dizendo aos presidentes norte-americanos para cuidarem de sua vida, e desde a melhora nas relações Raúl vem tendo o cuidado de dizer que ela não significa que Cuba pretende alterar seu sistema político e que, embora seu governo esteja aberto a debater qualquer tema, isso tem que acontecer com respeito mútuo.
Obama recebeu aplausos demorados quando reiterou seu clamor para que o Congresso dos EUA anule o embargo, que chamou de "um fardo obsoleto sobre o povo cubano".
A reação foi mais morna quando ele pediu mais liberdade política, incluindo a liberdade de expressão e religião, mas o líder foi aplaudido com entusiasmo quando pediu uma reforma econômica que ajude a atrair mais investimentos de empresas norte-americanas, muitas das quais continuam com um pé atrás.
Ao mesmo tempo, Obama procurou equilibrar sua crítica com o reconhecimento dos defeitos de seu próprio país e das conquistas cubanas em áreas como a saúde e a educação.
No discurso transmitido ao vivo pela mídia estatal cubana, Obama procurou persuadir os cubanos comuns de que sua nova política, incluindo o alívio nas restrições ao comércio e às viagens, tem como foco principal ajudá-los a melhorar suas vidas.
No final de sua fala, Raúl aplaudiu discretamente e acenou para o público.
(Reportagem adicional de Dan Trotta e Frank Jack Daniel)