Um dos principais defensores do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMBD-RJ), o deputado Carlos Marun (PMDB-MS) disse hoje (4) que a defesa da presidenta Dilma Rousseff apresentada pelo advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, à comissão especial do impeachment foi “esvaziada de razão”.
Marun rebateu a acusação de Cardozo de que o recebimento da denúncia foi fruto de “vingança” por parte do presidente da Casa.
“Não tenho conhecimento antigo do Cunha para saber desse detalhe da sua personalidade. Ele [Cardozo] colocou que foi uma vingança. Se foi vingança, bendita vingança, que vai levar ao impedimento da presidente e a um novo rumo para o país”, disse o peemedebista.
Cardozo disse à comissão que o recebimento da denúncia contra Dilma deu-se por “vingança” de Cunha, o que caracterizaria “desvio de poder” pelo fato de o PT defender a cassação do presidente da Casa no Conselho de Ética.
Para líder PSDB, Antonio Imbassahy (BA), Cardozo fez uma apresentação “patética” na comissão. “Uma apresentação patética, alarmando o Congresso, tentando estabelecer um falso duelo entre uma presidente que está desenganada com essa Casa. Não tendo argumentação no campo jurídico, técnico e social, o ministro Cardozo, que conseguiu ser pior que o ministro [da Fazenda Nelson] Barbosa, e ameaçou judicializar o processo, recorrendo ao Supremo Tribunal Federal”, criticou o líder tucano.
“O ministro da AGU veio contar história para boi dormir. Ele foge da realidade, não tem o mínimo de conteúdo e esquece do que está acontecendo com o país”, reforçou o líder do PPS, deputado Rubens Bueno (PR).
Parlamentares pró-governo se manifestam com cartazes durante sustentação oral do advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, na Comissão Especial do Impeachment, na Câmara Valter Campanato/Agência Brasil
Para o deputado Fernando Francischini (SD-PR), membro da comissão especial que analisa o impeachment, Dilma cometeu crime de responsabilidade ao escalar o advogado-geral da União para fazer sua defesa. “Até na defesa ela cometeu crime usando bem público, funcionários públicos na sua defesa”, alegou.
Para o parlamentar paranaense, no julgamento do impeachment, a convicção dos parlamentares se sobrepõe aos autos do processo. “Pode estar nos autos ou não, isso forma a convicção de cada deputado porque o julgamento aqui é político. Cada um faz o seu juízo de valor em cima da sua representação eleitoral. Por isso o julgamento é feito aqui e não no Supremo Tribunal Federal. Já entendemos que o país está em uma crise profunda, ela [Dilma] perdeu a credibilidade”.
Base aliada
Para deputados da base aliada e contrários ao impeachment de Dilma, o ministro da Advocacia-Geral da União conseguiu desqualificar todo os pontos levantados contra a presidente. “A defesa foi bastante consistente. Acho que ele desmontou os argumentos e as premissas, que foi o motivo de vingança do presidente Eduardo Cunha. Ele desmoronou com a proposta. Agora, do ponto de vista de mudança, consciência e correlação de forças, isso não dá para dizer. Quero crer que o relator tenha ouvido os argumentos e leve-os em consideração”, disse o líder do PSOL, Ivan Valente (SP).
“Espero que [a argumentação da defesa] pese na decisão, na medida em que cada deputado está escrevendo parte da história do país e aqui não estamos para ajustar contas políticas, essas se ajustam no processo eleitoral. Estamos aqui para analisar a Constituição e se houve ou não crime de responsabilidade. Como não houve, espero que os que se opõem ao governo se preparem para, eventualmente, ganhar eleições no futuro”, afirmou o vice-líder do PT, Henrique Fontana.
O líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), elogiou o trabalho feito por Cardozo e lembrou que o partido não fechou questão sobre a votação do impeachment. “O PMDB deliberou, em decisão do diretório nacional, sobre o afastamento administrativo do governo. A respeito do processo de impeachment não foi tratado e, portanto, nada foi decidido.”
Picciani classificou de “invenção” a possibilidade de a votação do processo pelo plenário da Casa ocorrer em um final de semana. “A Câmara irá analisar dentro dos prazos que a legislação estabelece. Creio que esse é um tipo de processo que não admite invenções. Defenderei no colégio de líderes que as votações ocorram em dias úteis, de trabalho normal. Não há razão para invenções.”