Por Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A presidente Dilma Rousseff cavou a própria saída da Presidência, que deve ser consumada na semana que vem por decisão do Senado, ao se mostrar inábil e com dificuldades em dialogar com políticos, afirmou à Reuters o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), nesta quinta-feira.
Paes disse lamentar que o país tenha uma presidente reeleita com mais de 50 milhões de votos na iminência de ser afastada por crime de responsabilidade, mas acredita que Dilma “chegou a esse momento” por culpa dela.
“É uma situação muito constrangedora... Acho ruim o Brasil ter esse processo de impedimento da presidente e ao longo dos últimos anos fiz de tudo para tentar ajudá-la, mas infelizmente a presidente se mostrou totalmente incapaz de liderar o processo“, disse ele em entrevista no seu gabinete.
"O retrato do Brasil hoje é fruto dessa inabilidade política da presidente da República”, acrescentou.
A votação sobre o impeachment de Dilma pelos senadores está prevista para quarta-feira da semana que vem e, se aprovado, ela terá de se afastar do cargo por até 180 dias.
Embora seja grato ao apoio dado ao Rio desde que a cidade foi escolhida sede dos Jogos Olímpicos de 2016, Paes sinalizou que a relação com a presidente se desgastou de vez. A gota d’água teria sido o apoio ao impeachment de deputados federais que ocupam secretarias no município do Rio. Eles retomaram temporariamente seus mandatos e votaram na Câmara dos Deputados a favor da admissibilidade do processo de afastamento da presidente.
Paes, que já foi do PSDB e depois de ingressar no PMDB se tornou um aliado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e também de Dilma, afirmou que o perfil rígido e, para muitos, teimoso da mandatária, foi fatal para a continuidade do mandato.
“Ela é a grande responsável por todos os problemas que estão acontecendo. Ela tem muita dificuldade de escutar e até fazer (acordos)“, avaliou. “Nunca foi uma tarefa fácil de poder dizer as coisas para ela, mas comigo sempre foi muito carinhosa, respeitosa e gentil.”
DEFESA
Nesta semana, a Procuradoria-Geral da República (PGR) solicitou ao Supremo Tribunal Federal um pedido de abertura de inquérito contra o senador e presidente do PSDB, Aécio Neves (MG), e que a apuração se estenda ao prefeito Paes, com base em deleção premiada do senador Delcídio do Amaral (sem partido-MS).
Na denúncia, Delcídio acusou Paes de ser uma espécie de intermediário de uma eventual manobra de Aécio, na época da CPI dos Correios (2005), para maquiar dados do Banco Rural em relação ao mensalão mineiro naquela CPI.
Eles são suspeitos de terem tentado ocultar da CPI informações sobre o suposto esquema de compra de votos em troca de apoio parlamentar na Assembleia Legislativa de Minas Gerais durante a gestão do ex-governador Eduardo Azeredo (1995-1999), do PSDB.
Paes nega qualquer tipo de irregularidade. “Tenho orgulho de ter ajudado na descoberta do mensalão naquela CPI... Quem tem que responder sobre envolvimento com o Banco Rural é o Aécio Neves e ele nunca me pediu nada para adiar informações”, disse.
CONTRA CUNHA
O prefeito do Rio manifestou apoio à decisão do ministro do STF Teori Zavascki, tomada mais cedo nesta quinta, de suspender o mandato do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a pedido da PGR.
“Havia um conjunto de denúncias muito contundentes em relação ao presidente Eduardo Cunha, a ação dele de atrasar o Conselho de Ética e outras ações para se proteger estavam cada vez mais claras... A partir de denúncias tão contundentes, ele (Cunha) já deveria ter tido essa iniciativa de no mínimo ter se afastado há algum tempo”, afirmou Paes.
Ainda que avesso ao clima político de Brasília, frequentemente o nome do prefeito do Rio emerge como potencial candidato do PMDB nas eleições presidenciais de 2018. Ele rechaça a possibilidade: “Eu? Deus me livre”, finalizou.