SÃO PAULO (Reuters) - Parlamentar com trânsito junto ao presidente interino Michel Temer desde os tempos em que os dois estavam em campos opostos, Rodrigo Maia (DEM-RJ) comandará a Câmara dos Deputados até o final de janeiro do ano que vem depois de uma campanha em que buscou capitalizar o sentimento contrário ao ex-presidente da Casa Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de quem já foi aliado.
Pragmático, Maia, um dos principais críticos aos governos petistas de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, teve de mostrar bom trânsito também com o PT e com partidos mais fiéis à presidente afastada para angariar os votos de que precisava para superar o deputado Rogério Rosso (PSD-DF), visto como candidato próximo a Cunha.
"O Legislativo é um espaço democrático. A agenda é da maioria, porém a minoria precisa e deve ser ouvida.", disse Maia ao ter seu nome confirmado pelo DEM como candidato do partido à presidência da Câmara.
Rodrigo Maia, 46 anos, nasceu em Santiago, no Chile, pois à época seu pai, o ex-prefeito do Rio de Janeiro Cesar Maia, vivia no exílio por conta da repressão do regime militar.
Deputado federal desde 1999, Maia já presidiu o DEM e foi líder da bancada do partido na Câmara. O bom trânsito com Temer pôde ser visto em 2015, quando o hoje presidente interino era articulador político de Dilma.
Maia conseguiu votos dentro da oposição a Dilma para aprovar uma medida provisória defendida pelo governo da petista que restringiu o acesso ao seguro-desemprego.
Alvo de críticas de correligionários por ter votado junto com o governo Dilma, Maia argumentou à época que, caso a MP não fosse aprovada, o país quebraria e afirmou que buscou dar um voto de confiança ao então ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e a Temer.
A boa relação com Temer fez com que Maia tivesse o nome cotado para assumir a liderança do governo interino na Câmara quando Dilma foi afastada. Acabou, no entanto, sendo preterido em favor do deputado André Moura (PSC-SE), nome ligado a Cunha.
O próprio Maia, entretanto, já foi bastante próximo ao polêmico ex-presidente da Câmara, a quem chegou a fazer elogios. O DEM apoiou a eleição de Cunha ao comando da Casa, em fevereiro de 2015, e como recompensa Maia recebeu a relatoria de projetos importantes, como o da reforma política.
Conforme as denúncias de irregularidade contra Cunha iam se avolumando, no entanto, o partido se afastou do agora ex-presidente da Câmara, movimento que deu a Maia a chance de ser um dos polos de atração aos contrários ao peemedebista e assim se tornar um candidato competitivo na disputa pelo comando da Câmara.
(Por Eduardo Simões)