Por Eduardo Simões
SÃO PAULO (Reuters) - O juiz federal Sérgio Moro, responsável pela primeira condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, deixará o posto de principal estrela da Lava Jato ao assumir o comando do Ministério da Justiça no governo do presidente eleito Jair Bolsonaro, em uma decisão que dará fôlego a críticos que apontam viés político em sua atuação como magistrado.
Moro, de 46 anos, já foi celebrado como herói --inclusive em montagens em que aparece como super-homem e sigla "SM" no peito--, e apontado por parcela significativa da população como ícone do combate à corrupção.
Um estudioso da Operação Mãos Limpas, que combateu a corrupção na Itália na década de 1990, Moro fez comparações entre a operação italiana e a Lava Jato e, além de sua atuação no caso como juiz, também defendeu mudanças estruturais, incluindo no sistema político, para combater a corrupção.
Apontado como possível nome para disputar o Palácio do Planalto neste ano, chegou a ter o nome incluído em pesquisas de intenção de voto antes de definidas as candidaturas, negou a possibilidade de entrar na vida política, alegando ter feito uma "opção pela magistratura".
"Eu fiz uma opção na minha carreira pela magistratura então não me vejo, e já disse mais de uma vez, e reitero quantas vezes forem necessárias, que não serei candidato, nada disso", afirmou durante evento em 2017 em São Paulo.
Ao aceitar o convite de Bolsonaro, no entanto, deixará a magistratura para trás, ao menos por ora, já que o presidente eleito também o apontou como provável indicado a uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) quando uma das cadeiras ficar vaga, o que deve ocorrer em 2020, com a aposentadoria compulsória do ministro Celso de Mello.
Especializado em crimes financeiros, Moro foi juiz do caso Banestado no início dos anos 2000, quando o doleiro Alberto Youssef, envolvido na Lava Jato, também foi um dos protagonistas e um dos que firmaram acordo de delação premiada com a Justiça.
Antes de ganhar notoriedade nacional com a Lava Jato, Moro foi juiz auxiliar da ministra Rosa Weber, do STF, em 2012, durante o julgamento do caso conhecido como mensalão, numa época em que Rosa havia recém chegado ao Supremo oriunda da Justiça do Trabalho.
EMBATES COM A DEFESA
Como juiz da Lava Jato, Moro teve embates frequentes durante audiências com a defesa de Lula, que por diversas vezes questionou juridicamente a suposta parcialidade do juiz.
Em um dos casos, após encerrada a audiência com o zelador do prédio onde fica o tríplex atribuído a Lula, que depôs como testemunha no processo, Moro ironizou o fato de Lula ter processado o procurador da República Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, por conta de uma apresentação em power point em que acusou o petista de chefe de organização criminosa, indagando se a defesa processaria a testemunha.
"Vai entrar com ação de indenização então contra ela (testemunha), doutor?", perguntou ao advogado Cristiano Zanin Martins, que representa Lula.
Zanin rebateu que ninguém estava acima da lei e indagou se |Moro estava advogando para o zelador. O juiz respondeu de forma sarcástica.
"Está bom, doutor. Uma linha de advocacia muito boa", ironizou. Ao que advogado de Lula respondeu também irônico: "Faço o registro de vossa excelência e recebo como um elogio."
O juiz foi alvo de críticas por conta do episódio em que divulgou nos autos do processo interceptações telefônicas de Lula com a então presidente Dilma Rousseff, e com outras autoridades com prerrogativa de foro, como o então ministro Jaques Wagner e o governador do Piauí, Wellington Dias, ação que contribuiu para a desestabilização da petista.
Também foi novamente acusado de viés político quando tornou públicos trechos da delação premiada do ex-ministro Antonio Paloci a poucos dias do primeiro turno da eleição presidencial. Antes, o magistrado havia adiado o depoimento de Lula no processo do sítio de Atibaia para novembro, sob alegação de que o adiamento visava evitar exploração eleitoral.
O papel central na Lava Jato também rendeu a Moro fama internacional. Ele foi condecorado por universidades estrangeiras, deu palestras no exterior e estampou capas de revistas internacionais, aclamado como um símbolo do combate à corrupção e ao fim da impunidade de poderosos no Brasil.
Moro é casado com a advogada Rosangela Wolff Moro, criadora de uma página no Facebook (NASDAQ:FB) em homenagem ao marido intitulada "Eu Moro com ele" e que comemorou a vitória de Bolsonaro no segundo turno das eleições presidenciais nas redes sociais. O casal tem dois filhos.