Por Pedro Fonseca
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Polícia Federal e o Ministério Público Federal lançaram operação nesta quarta-feira para desarticular uma suposta organização criminosa acusada de cometer crimes de lavagem de dinheiro e corrupção na Eletronuclear, tendo entre os alvos o ex-presidente da empresa Othon Luiz Pinheiro da Silva, que já é réu no âmbito da investigação, e o atual presidente da estatal.
Pinheiro, que estava em prisão domiciliar em um condomínio no Rio de Janeiro, teve sua prisão preventiva decretada novamente diante da demonstração da manutenção de sua influência na empresa, enquanto o atual presidente da Eletrobras (SA:ELET3), Pedro Figueiredo, foi afastado do cargo pela Justiça por evidências de que agiu para favorecer Pinheiro nas investigações internas realizadas pela própria empresa, segundo o MPF.
Vice-almirante reformado, Pinheiro é suspeito de ter recebido ao menos 12 milhões de reais em propina nas obras da usina nuclear de Angra 3, em um contrato de 1,2 bilhão de reais da Eletronuclear, uma unidade da Eletrobras, com a empreiteira Andrade Gutierrez.
De acordo com as autoridades, o objetivo da operação é obter provas adicionais de crimes de organização criminosa, fraudes licitatórias, corrupção e lavagem de dinheiro decorrentes de contratos da Eletronuclear. Seis funcionários da Eletronuclear que integravam, segundo a PF, um núcleo operacional de fraudes tiveram a prisão preventiva decretada, enquanto outras três pessoas foram alvo de mandados de prisão temporária e nove de condução coercitiva.
Uma dessas conduções foi a do diretor afastado da Eletrobras Valter Cardeal.
A operação foi deflagrada tendo como base informações passadas às autoridades por executivos da empreiteira Andrade Gutierrez em delação premiada sobre desvios de recursos no setor elétrico.
"Tendo em conta a informação de que a Eletronuclear pagou para a Andrade Gutierrez em relação ao contrato de construção civil de Angra 3 o valor de aproximadamente 1,2 bilhão de reais, e estabelecendo-se a possível premissa de que todo o acerto realizado foi pago, é possível apresentar a estimativa de que Othon Luiz recebeu até 12 milhões de reais", disse o MPF em comunicado.
Pinheiro, foi alvo da 16ª etapa da operação Lava Jato, chamada Radioatividade, realizada em julho de 2015. Em dezembro do ano passado, a Justiça Federal do Rio acatou denúncia contra ele e mais 13 pessoas por acusações de corrupção e outros crimes relacionados a contratos da usina de Angra 3 investigados pela Radioatividade.
De acordo com as investigações do Ministério Público Federal e da Polícia Federal, foi formado um cartel nas licitações de serviços de montagem da usina com envolvimento das empreiteiras Andrade Gutierrez e Engevix, que teriam feito pagamento de propinas ao ex-presidente da Eletronuclear.
“As investigações constataram a incrível audácia da organização criminosa que vitimou a Eletronuclear, sendo que, mesmo após ter sido alvo da operação Radioatividade, continuou a ter influência na estatal, atrapalhando a completa elucidação do amplo esquema de corrupção, fraude a licitações e lavagem de dinheiro", disseram os procuradores da força-tarefa da Lava Jato no Rio de Janeiro em nota.