Por Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA (Reuters) - O deputado Leonardo Picciani (RJ), aliado do governo da presidente Dilma Rousseff, foi reeleito nesta quarta-feira líder do PMDB na Câmara dos Deputados, em um resultado que deu alívio ao Palácio do Planalto.
Picciani avaliou que a margem de votos foi "significativa", uma vez que na eleição passada venceu por um voto. Ele derrotou por 37 votos a 30 o deputado Hugo Motta (PB), candidato do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), desafeto declarado do governo.
"A disputa foi legítima, a disputa faz parte da tradição do PMDB, não foi a primeira disputa do PMDB e certamente não será a última. E que bom que não será a última", disse o líder reeleito a jornalistas.
A reeleição de Picciani como líder da maior bancada da Câmara traz alívio ao Planalto, que encampa uma queda de braço com Cunha e enfrenta a ameaça de abertura de um processo de impeachment contra Dilma.
Picciani rejeitou, no entanto, a tese de que o pedido de impeachment perde força com sua vitória. "Perde força porque não há um crime de responsabilidade cometido pela presidente da República. E a população tem percebido isso", afirmou.
A disputa pela liderança teve um gesto de apoio do ministro da Saúde, deputado Marcelo Castro (PMDB-PI), que acabou ensejando críticas, uma vez que pediu exoneração do cargo nesta quarta-feira para assumir seu mandato parlamentar e votar em Picciani e, posteriormente, reassumir a pasta, em meio a uma crise no país com o avanço do Zika vírus e dos casos de microcefalia em bebês recém-nascidos.
Após a vitória de Picciani, Castro avaliou que o governo sai "fortalecido".
"Foi uma tarde muito boa, muito importante para o futuro de nosso partido, para o futuro da nossa bancada e para a estabilidade política do nosso país", disse.
"O PMDB fica agora em uma posição mais confortável", acrescentou.
Após chegar à Câmara para a eleição, Castro motivou um protesto. Manifestantes lançaram uma chuva de papéis com imagens do mosquito Aedes aegypti, transmissor do Zika vírus, da dengue e da febre chikungunya, e pessoas com máscaras imitando a aparência do vetor e portando raquetes elétricas para matar insetos chegaram a entrar no plenário, mas foram retiradas.
No Palácio do Planalto, a vitória de Picciani foi comemorada "discretamente" e interpretada como um sinal de que a situação do governo no Congresso está melhor, disseram à Reuters duas fontes do governo.
“O Planalto não pode comemorar abertamente, mas claro que é um alívio, não há dúvida”, disse uma das fontes.
O placar da disputa, com uma vantagem de sete votos para Picciani, também foi avaliado como uma sinalização positiva pelo governo, que esperava vitória mais apertada, por quatro votos. As fontes, no entanto, reconheceram que a disputa mostra uma divisão do PMDB, maior partido da coalizão governista.
Picciani reassume o comando de uma bancada que, embora numerosa, encontra-se dividida, e terá de mostrar lealdade ao Planalto nas batalhas que enfrentará no Congresso.
O racha entre deputados peemedebistas ficou mais evidente durante a escolha, no ano passado, de nomes da bancada para compor uma comissão especial da Câmara que analisará o pedido de impeachment. O desentendimento chegou ao ponto crítico em que integrantes do partido contrários ao governo destituíram Picciani da liderança por oito dias.
(Reportagem adicional de Lisandra Paraguassu)