Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O Palácio do Planalto já respira aliviado com as indicações de que deve vencer o julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com quatro votos favoráveis e três contrários, mas começa a traçar estratégias para a próxima barreira, a possível denúncia ao Supremo Tribunal Federal (STF) sendo preparada pela Procuradoria-Geral da República contra o presidente Michel Temer.
Em guerra quase declarada contra a PGR, o Planalto trabalha com a intenção de arregimentar parlamentares da base para barrar a aceitação da denúncia, que precisa passar pela Câmara dos Deputados para prosseguir.
"O Congresso vai ter que optar se segue a orientação do Ministério Público e aceita a denúncia ou se mantém as relações com esse governo. É optar pela política ou pela criminalização da política", disse uma fonte palaciana.
O Planalto tem defendido que se o próprio presidente está sendo atacado pela força-tarefa da Lava Jato, nenhum dos parlamentares estaria a salvo e a melhor opção seria optar pela "política".
Vencer a denúncia é a próxima barreira do Planalto, dizem as fontes palacianas. Em tese, não é algo tão complicado, já que o governo precisa de apenas 172 votos para impedir que o processo contra Temer seja aberto e, nas últimas votações, tem conseguido pelo menos 260 votos.
Uma das fontes alega que, apesar do risco de debandada de integrantes da base -especialmente do PSDB- parte da base estaria ainda mais coesa depois das denúncia. "É um grupo menor, mas que está muito forte", disse a fonte, citando PP, PR e PTB entre os países que mantém o apoio a Temer.
A denúncia, no entanto, não é o único problema. "O governo sabe que não tem nada resolvido. Existem coisas satélites que podem se tornar problemas muito grandes", disse uma outra fonte governista. "O TSE não resolve a crise política", acrescentou.
Entre as "pequenas coisas" estão uma possível delação do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures, homem próximo de Temer e que foi preso este final de semana por ter recebido propina da JBS (SA:JBSS3). Além disso, não se sabe o que mais poderá vir da operação Lava Jato ou até mesmo novas gravações dos irmãos Batista, donos da JBS.
DESEMBARQUE
Além disso, o governo pode perder em breve o principal partido da sua base, em um momento em que precisa da base para tentar debelar a denúncia contra Temer e ainda mostrar que tem controle do Congresso. Os tucanos se reúnem na segunda-feira para decidir se ficam ou não na base, independentemente do resultado do TSE.
"A saída não está consolidada, mas caminha firmemente para isso", disse à Reuters um tucano de alto escalão. "E o problema nem é o PSDB sair ou ficar, é como fica o governo daqui para a frente, independentemente do resultado do TSE."
Mesmo deixando o governo, o PSDB diz que continuará apoiando as reformas, mas teme o impacto de novas denúncias na governabilidade. E as eleições de 2018.
"Vencendo no TSE, o governo ganha um gás, pode recuperar o discurso. Mas o PSDB está preocupado com seu futuro político. Alguns já resistiam à aliança. Ficar associado a um governo problemático pode ser um peso que eles não querem encarar", disse uma fonte palaciana.