Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O Palácio do Planalto teme o resultado da convenção do PMDB no sábado, quando o maior partido da base governista pode decidir pela independência das bancadas no Congresso, afirmou uma fonte do governo nesta quinta-feira.
A fonte, que pediu anonimato, avaliou que o PMDB é uma peça fundamental no tabuleiro político, “a torre protegendo a rainha”, que pode ainda garantir a derrota de pedido de abertura de processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados.
Nos últimos dias, o Palácio do Planalto, com a ajuda do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tem negociado com caciques do partido para tentar evitar um movimento mais forte no encontro de sábado.
A própria Dilma conversou na tarde de quarta-feira com seu vice Michel Temer, em uma aproximação que tem sido cada vez mais rara. O ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, também esteve com Temer no Palácio do Jaburu para uma conversa de quase duas horas, e o vice-presidente foi procurado ainda pelo ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência, Edinho Silva.
Segundo a fonte, Temer disse a seus interlocutores que não haverá um desembarque explícito do governo e que está tentando evitar que uma moção por independência seja colocada em votação.
“Se for para o voto (uma moção pela independência das bancadas), o governo perde”, disse a fonte.
O vice-presidente, no entanto, assim como o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e o líder do governo na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), tem dito a seus interlocutores no Planalto que não está na pauta de votação uma moção de independência e se tentará evitar que seja incluída em alguns dos tópicos a serem votados.
Nesta quinta-feira, o presidente do Senado afirmou que o PMDB precisa ter cuidado com qualquer sinal que vá dar na convenção, porque pode melhorar ou piorar a crise política, o que o governo avaliou como um sinal positivo de que o partido possa se manter na base sem dissidências.
Uma parte significativa dos peemedebistas, no entanto, aposta na liberação das bancadas, uma espécie de “rompimento branco” com o governo.
“Vamos votar com o governo em algumas coisas, que interessam ao partido, mas no que não interessa vamos liberar as bancadas”, disse à Reuters um parlamentar de alto escalão.
IMPEACHMENT
A ala que defende o rompimento tem crescido nas últimas semanas, e um número grande de peemedebistas já aposta no impeachment, prevendo um governo de coalizão comandando por Temer.
O próprio governo avalia que o risco de aprovação de um processo de impeachment cresceu nas últimas três semanas, desde o vazamento de parte do acordo de delação premiada do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), disse à Reuters a fonte palaciana.
A conta é que o governo ainda tem votos para barrar o processo na Câmara, mas não se sabe por quanto tempo. “Hoje sim pode-se ganhar. Mas vai depender de como as manifestações irão se desenrolar daqui para a frente. Deputados se movem por voto, pela opinião popular. Os deputados podem se sentir pressionados”, avaliou a fonte.
A crise, no entanto, alimenta a paralisia do governo, lamenta a fonte. A sequência de denúncias, diz, tem impedido o governo de levar adiante as propostas de ajuste fiscal.
Na quarta-feira, o ministro do Trabalho e Previdência, Miguel Rossetto, admitiu que o governo terá que avaliar o clima político para decidir se leva ao Congresso a proposta de reforma da Previdência. A fonte palaciana concorda. Afirma que com um ambiente político instável o governo pode ter que rever o andamento da proposta.
“Tudo indicava no final do ano que o governo conseguiria ir adiante com os projetos, mas agora já não se sabe”, admitiu.