Por Lisandra Paraguassu e Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA (Reuters) - Depois de ameaçar por meses declarar sua independência do governo na convenção de sábado, o PMDB fechou um acordo para empurrar para abril as maiores polêmicas, observar o cenário pós-manifestações e concentrar os esforços em unir o partido na recondução de Michel Temer à presidência do partido, informaram à Reuters peemedebistas envolvidos nas negociações.
Peça fundamental no tabuleiro político, com força suficiente para barrar na Câmara dos Deputados eventual abertura de um processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, o maior partido da base reúne-se em convenção nacional no sábado, quando deve ser apresentada a proposta de adiar a discussão da ruptura tão desejada por alas do partido.
Segundo o deputado Lúcio Vieira Lima (BA), a ideia é empurrar para abril, em uma reunião do diretório nacional, todas as moções que possam dividir o partido, seja um desembarque oficial do governo, seja sinalizar independência das bancadas no Congresso nas votações.
“O nosso objetivo nessa convenção é mostrar a unidade do partido. A decisão será a de jogar para o diretório, com data estabelecida”, disse à Reuters o deputado, que integra a ala do partido contrária ao governo.
A justificativa de não dividir o partido mais uma vez, no entanto, ajuda o PMDB a não tomar uma decisão antes de assistir o que acontecerá nas manifestações deste domingo que, espera-se, sejam mais fortes do que as do final de 2015. Além disso, poderá medir a temperatura da abertura de um processo de impeachment contra a presidente pela Câmara, que pode acontecer nas próximas duas semanas.
Em conversas com ministros e com a própria presidente, peemedebistas de alto escalão advertiram que uma moção para dar independência às bancadas seria aprovada, contou à Reuters uma fonte palaciana que conversou com Michel Temer. Isso desestabilizaria ainda mais a frágil e eventual maioria que o governo ainda consegue manter no Congresso.
A avaliação assustou o Planalto, que batalhou para tentar conter o movimento de independência, inclusive com a atuação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que conversou na última terça-feira com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). O alto escalão do partido usou o regimento da convenção para convencer os mais exaltados a adiar em 30 dias a votação de todas as moções que não estavam na pauta.
O líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (PMDB-RJ), tido como mais alinhado ao Planalto, também afirmou que temas controversos, como o desembarque, não serão colocados em votação durante o sábado, justamente para não alimentar desavenças dirimidas após esforço empreendido por Temer para reunificar o partido.
A leitura entre peemedebistas é que o momento exige união diante da possibilidade de um impeachment da presidente Dilma Rousseff. Uma parte cada vez maior do partido acredita que Dilma pode perder o cargo, talvez até o meio do ano, e espera a chance de criar um governo de coalizão em torno de Temer, disse à Reuters uma fonte de alto escalão do partido.
As manifestações poderão, na visão desse peemedebista, acelerar o processo, o que faz o partido aceitar esperar antes de tomar uma decisão. O Supremo Tribunal Federal deve decidir na semana que vem sobre os embargos declaratórios apresentados pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), à decisão sobre o rito do impeachment.