BRASÍLIA (Reuters) - Os presidentes do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), defenderam investigações nesta terça-feira sobre possíveis omissões na delação dos executivos da J&F, mas evitaram fazer avaliação do impacto político dessa última reviravolta na esperada segunda denúncia que deve ser apresentada contra o presidente Michel Temer.
Maia afirmou que espera uma reação rápida e dura do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e disse que o fato “gera algumas dúvidas” sobre o acordo e o trabalho do ex-procurador Marcelo Miller.
“O doutor Janot deu ontem a primeira resposta rápida, pedindo o prazo de cinco dias pra que se investigue. Todo mundo espera que, parecido com o que aconteceu em outros casos, que tanto Joesley quanto o procurador tenham da Procuradoria a mesma ação”, disse o deputado ao chegar em uma cerimônia na Câmara.
Questionado sobre se essa nova reviravolta facilitava a vida do governo, Maia --que ocupa interinamente a Presidência da República devido à viagem do presidente Michel Temer à China-- evitou responder, dizendo que o Brasil é um país onde as coisas mudam em 12 horas.
“Ontem estávamos discutindo como ia ser a denúncia. Agora estamos discutindo a reorganização da delação”, disse.
Na véspera, antes do pronunciamento em que Janot determinou a investigação que pode anular a delação dos executivos da J&F, Maia avaliou que o governo havia perdido força junto ao Legislativo e afirmou que Temer teria mais dificuldades para barrar uma segunda denúncia.
Nesta terça, o parlamentar defendeu o instituto da delação premiada e não quis avaliar se é correta a impressão de que a delação foi “açodada”, como acusa o Palácio do Planalto.
“Eu não sou procurador, acho que o procurador tem que tomar as decisões. Acho que a sociedade tem reclamado desde o início da delação da JBS (SA:JBSS3), não foi a JBS ter tratado do presidente Michel Temer, de parlamentares, de governadores, foi o benefício que a JBS recebeu completamente diferente dos outros benefícios”, disse.
Segundo Maia, não se pode culpar, no entanto, a PGR, por informações que, à época da delação, os procuradores não tinham.
“Acho que essa gravação pode reorganizar essa relação, pode reorganizar os benefícios que foram aceitos pela PGR aos delatores. Acho que é isso que a PGR está avançando”, disse.
Maia defendeu ainda o Supremo Tribunal Federal (STF). Ao ser questionado sobre como ficava o país com a citação a ministros, o presidente da Câmara lembrou que Janot afirmou ser citações “indevidas” e que eram “dois irresponsáveis” conversando.
ISENÇÃO
Na mesma linha de Maia, Eunício Oliveira condenou vazamentos pontuais e defendeu investigações “verdadeiramente aprofundadas”.
“Eu tenho certeza absoluta que o Ministério Público não tem compromisso com o erro”, disse o presidente do Senado a jornalistas.
“Eu sou a favor das investigações, que ninguém tenha compromisso com o erro, seja desse Poder, seja do Poder Judiciário, seja do Executivo, seja até dos membros do Ministério Público.”
Questionado sobre o impacto do recente episódio sobre uma segunda denúncia contra Temer, Eunício preferiu não comentar, lembrando que em último caso é o presidente do Congresso quem deverá conduzir uma eleição indireta à Presidência da República.
“O Senado... tem que ficar um pouco distante de todo esse processo, porque se por acaso viesse a ser aceita a denúncia, o julgamento vai ser feito pelo Supremo. Mas se o Supremo entender... e confirmar a denúncia cabe ao presidente do Congresso Nacional ... fazer a eleição indireta e conduzir o processo”, explicou.
“Portanto eu prefiro ficar distante para poder ficar isento.”
(Reportagem de Maria Carolina Marcello e Lisandra Paraguassu)