(Reuters) - A ex-senadora Marina Silva reiterou nesta terça-feira que a cassação pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) da chapa Dilma-Temer e a convocação de uma nova eleição seria o caminho mais legítimo para encerrar a atual crise política no país, uma vez que considera PT e PMDB igualmente responsáveis pelos problemas e culpados pelos crimes investigados na operação Lava Jato.
Marina, terceira colocada nas duas últimas eleições presidenciais, já há algum tempo defende a solução via TSE para a crise política, argumentando que o eventual impeachment da presidente Dilma Rousseff, ainda que dentro da legalidade, não cumpriria com a finalidade, já que levaria à Presidência o vice-presidente da República, Michel Temer.
"Durante esses 12 anos, o PT e o PMDB praticaram os mesmos crimes do ponto de vista do caso do petrolão, os mesmo erros do ponto de vista político e são igualmente responsáveis pela crise que nós estamos vivendo", disse Marina em discurso durante evento de seu partido, a Rede, em Brasília, para lançar campanha em defesa de novas eleições. O evento foi transmitido pela Internet.
"Eu não consigo ver coerência, não consigo entender como alguém pode acreditar que se retira uma parte do fruto que está contaminado e se faz o suco com a outra parte, que está nas mesmas condições, e isso pode ser a solução", acrescentou.
As discussões sobre convocação de novas eleições têm ganhado espaço dentro do Congresso Nacional. Nesta terça-feira, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que vê com "bons olhos" a tese de convocar eleições gerais neste ano caso a política não forneça uma "saída para o Brasil".
A própria presidente comentou nesta terça, ao ser indagada por jornalistas, uma proposta feita na véspera pelo senador Valdir Raupp (PMDB-RO) de chamar eleições presidenciais ainda este ano, dizendo que é apenas uma proposta. Dilma aproveitou para fazer uma provocação ao Congresso: “Convence a Câmara e o Senado a abrir mão dos seus mandatos, aí vem conversar comigo”.
Segundo a proposta de Marina, o eventual vencedor de uma eleição antecipada ficaria no cargo por dois anos para comandar um período de transição até as eleições presidenciais de 2018, e não poderia concorrer à reeleição.
Na avaliação de Marina, também ex-ministra do Meio Ambiente, a cassação da chapa Dilma-Temer devolveria aos brasileiros a possibilidade de reparar o erro que foram induzidos a cometer na eleição de 2014, quando a campanha da petista contou com recursos supostamente provenientes do esquema bilionário de corrupção na Petrobras (SA:PETR4) investigado pela Lava Jato.
"Não é apenas um processo de julgamento político, é um julgamento jurídico, onde ficará comprovado, se ficar comprovado com suporte da Lava Jato, que o dinheiro da corrupção interferiu nas eleições", afirmou. "Ao caçar a chapa, se ficar comprovado, que a sociedade brasileira possa fazer de novo a sua escolha."
Dilma, que enfrenta um pedido de impeachment em tramitação em comissão especial da Câmara dos Deputados, é alvo de ações no TSE que apontam irregularidades na campanha eleitoral de 2014 e podem resultar na cassação da chapa vencedora.
A Rede, de Marina, protocolou uma petição junto ao TSE para exercer o papel de "amicus curiae" no processo de cassação da chapa Dilma-Temer.
(Por Pedro Fonseca, no Rio de Janeiro)