Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - As informações de que o vice-presidente Michel Temer já iniciou negociações para um governo de transição, em caso de aprovação do impeachment da presidente Dilma Rousseff, incomodaram o Palácio do Planalto, mas não causaram surpresa, e a avaliação feita na reunião de coordenação política nesta segunda-feira é que ainda é possível reconquistar Temer e o PMDB, disseram duas fontes palacianas.
“Isso não é de hoje, faz muito tempo que ele (Temer) vem negociando com a oposição. Primeiro era um plano econômico, mas o governo sabe que se vem falando de uma transição”, disse à Reuters uma das fontes. O governo acompanha as movimentações, mas não houve intervenção para que o vice-presidente negasse sua participação nas negociações.
Logo no início da manhã, no entanto, Temer divulgou uma nota, por meio de sua assessoria, afirmando que “não tem porta-voz, não discute cenários políticos para futuro governo e não delegou a ninguém anúncio de decisões sobre sua vida pública”.
“Quando tiver que anunciar algum posicionamento, ele mesmo o fará, sem intermediários”, disse.
A avaliação no Planalto, depois da nota, foi de que há uma preocupação, por parte do vice-presidente, de não parecer ansioso para ocupar a cadeira presidencial e queimar sua imagem pública. Dilma enfrenta um pedido de impeachment na Câmara.
Desde o início do ano, Temer tem mantido um perfil público discreto, sem dar entrevista e sem grandes discursos, e voltou a conversar com o governo.
De acordo com uma fonte próxima ao vice-presidente, ele tem conversado com os principais ministros do Planalto inclusive sobre os riscos do PMDB desembarcar do governo nos próximos dias, depois da reunião do diretório, marcada para 29 de março.
Na semana passada, Temer falou por telefone com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, logo depois da sua nomeação para a Casa Civil. Ainda de acordo com a fonte, a entrevista dada pelo senador tucano José Serra (SP) ao jornal Estado de S. Paulo, em que ele afirma estar conversando sobre um governo de transição com o vice-presidente à frente, irritou Temer, que disse a interlocutores que ninguém foi autorizado a falar em seu nome, muito menos Serra.
No PMDB, no entanto, há sim quem já negocie com o PSDB um governo de transição com o vice-presidente à frente. Em conversa com a Reuters, um peemedebista de alto escalão não escondeu que há um plano de um governo de “união nacional” com Temer que, como sugeriu Serra na entrevista ao jornal paulista, não se candidataria à reeleição.
REAPROXIMAÇÃO
Na reunião de coordenação política, no entanto, Dilma avaliou que ainda é possível retomar as relações com o PMDB e o vice-presidente, e pediu aos ministros que tentem a reaproximação com o partido aliado.
O ex-presidente Lula, que mesmo tendo sua nomeação para a Casa Civil suspensa na Justiça irá atuar como “ministro informal”, terá como função primordial essa tentativa de reaproximação, avaliada como “estratégica”, disse à Reuters uma das fontes palacianas.
Apesar de avaliar como difícil a reaproximação, a presidente acredita que o governo ainda tem apelo para ao menos evitar um desembarque oficial da sigla na reunião do diretório.