Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O pedido de demissão do ministro da Secretaria de Aviação Civil, Eliseu Padilha –um dos peemedebistas mais próximos do vice-presidente Michel Temer– pegou de surpresa o Palácio do Planalto e acendeu um alerta de que a aliança com o PMDB, em um momento que a presidente Dilma Rousseff mais precisa, possa estar fraquejando, disseram à Reuters fontes do governo.
Padilha protocolou na noite de quinta-feira sua carta de demissão na Presidência da República depois de tentar, e não conseguir, ser recebido pelo ministro da Casa Civil, Jaques Wagner. Ainda na quarta-feira, o comunicou a outros peemedebistas que iria sair do governo.
A gota d'água teria sido a decisão da presidente Dilma de mandar retirar do Senado a indicação feita por Padilha de Juliano Noman para uma diretoria da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). A nomeação teria sido feita com o aval da presidente, e a volta atrás incomodou o ministro.
No entanto, peemedebistas próximos a Padilha confirmam que a descortesia foi apenas uma desculpa.
"Ele estava se sentindo incomodado e constrangido pela forma que o governo estava tratando a questão do impeachment", disse à Reuters um ex-ministro peemedebista. Padilha fez parte da reunião de coordenação política ampliada, chamada pela presidente na quinta-feira.
O tom do encontro foi de cobrança para que os ministros saíssem a campo em defesa absoluta do governo. O ministro teria se sentido incomodado. Fiel a Michel Temer, que tem mantido uma distância protocolar da presidente, Padilha não se sentia confortável para defender, mas nem livre para criticar o governo, revelou a fonte.
A posição oficial do governo é que não há risco de um desembarque em massa do PMDB do governo e que os demais ministros mostraram fidelidade à Dilma, mas há sim o temor de que outros sigam o caminho de Padilha, disse uma fonte palaciana.
O ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves –outro considerado da cota de Temer no governo– poderia ser a segunda baixa. Setores do PMDB pressionam Alves a deixar o cargo, mas ele resiste, contou uma fonte do partido.
O ministro foi um dos que mais brigaram para permanecer no governo na última reforma ministerial, arrebanhando apoios na bancada do PMDB e entre o grupo de Michel Temer para forçar sua permanência, e não estaria disposto a sair por enquanto. "Vamos ver quanto tempo ele resiste", comentou a fonte.
ATO ISOLADO
Na avaliação do líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani, a demissão de Padilha foi um ato de cunho pessoal e não afeta todos os ministros do partido. Picciani tem na sua conta duas indicações, Celso Pansera, da Ciência e Tecnologia e Marcelo Castro, da Saúde.
"Os ministros estão 100 por cento com o governo. Não existe nenhuma possibilidade de pedirem demissão", disse Picciani, referindo-se a Castro e Pansera.
Em entrevista à Reuters, o ministro da Saúde afirmou que o PMDB está com o governo e vai atuar alinhado na defesa da presidente na comissão especial que analisará o processo de impeachment na Câmara.
"O PMDB não é um partido golpista. A história do partido é em defesa da democracia, lutou pelas Diretas, pelo estado democrático de direito, essa é a marca do PMDB", disse Castro.
Nesta sexta-feira, Padilha foi para Porto Alegre sem agenda oficial. O ministro não atendeu a ligações da Reuters e evitou eventos públicos. Por meio da sua assessoria, afirmou que só falaria no assunto depois de conversar com a presidente, na segunda-feira, mas não negou as informações de que estaria saindo do governo.
Durante a tarde, Dilma reuniu no Palácio da Alvorada Jaques Wagner, o ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, e o da Justiça, José Eduardo Cardozo, para avaliar a situação do governo frente ao processo de impeachment. Na pauta entrou também a saída de Padilha, mas assessores palacianos informaram à Reuters que o governo ainda não tinha recebido nada formal do ministro.