SÃO PAULO (Reuters) - A indústria de transformação do Brasil tenta acertar com o presidente eleito Jair Bolsonaro uma agenda para os primeiros 100 dias do novo governo, na expectativa de tomada de medidas que possam destravar investimentos em um setor da economia que trabalha com nível de ociosidade perto de 50 por cento.
A associação que representa os fabricantes de máquinas e equipamentos, Abimaq, deve se reunir em Brasília, na quarta-feira pela manhã, com o futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, aprofundando um encontro realizado na semana passada entre Bolsonaro e uma coalizão empresarial formada pela entidade e também pelas indústrias de aço, construção civil, produtos químicos e têxteis.
"Na reunião da semana passada, o Jair (Bolsonaro) pediu para a gente colaborar com o governo de transição e nos colocamos à disposição para colaborar com o governo", disse nesta terça-feira o presidente-executivo da Abimaq, José Velloso Cardoso, durante entrevista coletiva da entidade sobre o desempenho do setor de máquinas e equipamentos em setembro.
Segundo Velloso, na reunião de cerca de duas horas e meia, realizada na segunda-feira passada, antes da eleição de Bolsonaro no último domingo, o agora presidente eleito afirmou que o "governo atrapalha demais a indústria e que o Brasil precisa ampliar exportações de produtos com maior valor agregado".
O presidente-executivo da Abimaq afirmou que no encontro agendado para quarta-feira com Lorenzoni o setor vai apresentar sugestões sobre medidas que possam acelerar o crescimento da economia e melhorar a pauta exportadora brasileira. Ele não comentou sobre as sugestões que devem ser apresentadas.
"Os seis primeiros meses serão muito importantes para mostrar a capacidade do governo para negociar com o Congresso. Precisa desburocratizar investimentos e recuperar a confiança para que o empresário possa despertar seu instinto animal de empreender. O importante é que existe uma esperança muito grande de que as coisas vão dar certo", disse o presidente da Abimaq, João Carlos Marchesan. Ele se referiu ao período de "lua de mel" do novo governo de cunho liberal terá com o setor privado.
Mais do que a reforma da previdência, que segundo especialistas é necessária para reequilibrar as finanças do país, a indústria de transformação tem na pauta a reforma tributária e novas ações para reduzir custo trabalhistas.
"Se o governo sinalizar com reformas necessárias, o empresário voltará a investir. Tem demanda reprimida, estamos há cinco anos sem investir e ainda temos mercado para exportar", disse Velloso. "O importante é sinalizar que o navio está apontado para o rumo certo", acrescentou.
Porém, enquanto a Abimaq fazia a coletiva de imprensa em São Paulo, Lorenzoni afirmou no Rio de Janeiro que o novo governo vai unir o Ministério da Indústria e Comércio, tradicional canal de interlocução do setor industrial com o governo federal, com as pastas de Planejamento e da Fazenda.
A desvinculação do Ministério da Indústria e Comércio no superministério de Bolsonaro foi um dos pedidos feito pelos industriais na reunião da semana passada.
Em setembro, o setor de máquinas e equipamentos teve alta de 13,4 por cento na receita líquida sobre um ano antes, para 7,09 bilhões de reais, informou a Abimaq.
O consumo aparente de máquinas e equipamentos no mês passado subiu 17,3 por cento, para 9,38 bilhões de reais, mantendo o ritmo de recuperação do setor frente o fraco desempenho de 2017. No ano, o consumo acumulou crescimento de 13 por cento.
A carteira de pedidos da indústria fechou setembro com crescimento de 4,8 por cento ante agosto, mas na comparação anual houve queda de 9,6 por cento, para o menor nível da série histórica.
Apesar disso, o setor de máquinas e equipamentos, formado por cerca de 8.500 empresas no país, espera "um pequeno" crescimento nos investimentos este ano ante a média de 4,5 bilhões de reais investidos por ano pelo setor nos últimos cinco anos. "Nos bons anos (entre 2010 e 2014) o setor investia cerca de 8 bilhões a 9 bilhões de reais por ano", disse Velloso, sem precisar o volume a ser aplicado em 2018.
Grande parte do investimento adicional deve ser aplicado em ampliação das exportações, favorecidas pela desvalorização do real ante o dólar. Segundo a Abimaq, a expectativa para 2018 é que as vendas externas do setor subam para entre 10,2 bilhões e 10,5 bilhões de dólares ante 9 bilhões em 2017. Para 2019, Velloso estimou que os fabricantes de máquinas e equipamentos devem bater o recorde de 11 bilhões de dólares registrado em 2013.
(Por Alberto Alerigi Jr.; Edição Maria Pia Palermo)