Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - Dirigentes do PSDB ainda não chegaram a um consenso de que é preciso romper imediatamente com o governo Temer, apesar da crescente pressão feita pelo presidente interino da legenda, senador Tasso Jereissati (CE), que disse nesta quinta-feira que o país está chegando a uma "ingovernabilidade" e que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), reúne condições para levar a um mínimo de estabilidade até 2018.
Em conversa com jornalistas, Tasso fez projeções para um presidente no Palácio do Planalto, destacando que o importante seria manter a atual equipe econômica e os partidos da base, com a presença de nomes que não tenham questionamentos no campo ético.
Apesar das indicações do presidente interino para um pós-Temer, um dirigente da cúpula do PSDB afirmou reservadamente à Reuters que não há qualquer decisão tomada pelo partido para deixar a base do governo e entregar os cargos que ocupa na Esplanada dos Ministérios.
Esse tucano admitiu, no entanto, que há um "exaurimento" da gestão do presidente Michel Temer e lembrou que o apoio ao peemedebista está condicionada à agenda de reformas.
Na próxima semana, o Senado deverá votar a reforma trabalhista. Essa proposta é tida por alguns tucanos como o "ponto de rompimento" com o governo, uma vez que a reforma da Previdência não deverá avançar diante das acusações que pairam sob Temer e paralisam a articulação da principal reforma do governo.
A avaliação do dirigente que conversou com a Reuters é que, mesmo com toda a carga de denúncias contra o presidente, o governo está funcionando e conseguindo aos poucos colher feitos na área econômica. O tucano duvida, ao contrário do que defendera Tasso, que Rodrigo Maia teria condições de levar adiante a agenda de reformas.
Maia assumiria o comando do país por até 180 dias, caso a Câmara aprove a autorização para que o Supremo Tribunal Federal analise a denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra o presidente por corrupção passiva, e o STF acate a acusação, tornando Temer réu. Esse seria o prazo para que a corte julgasse o peemedebista --ele retornaria ao comando do país se o STF não o concluísse o julgamento até lá.
Se Temer for condenado e afastado em definitivo, Maia teria 30 dias para conduzir o processo de uma eleição indireta --no qual, ele próprio, poderia ser candidato para o mandato-tampão até o final de 2018.
A pressão pelo desembarque do PSDB do governo também tem aumentado nos últimos dias pelos deputados mais novos da legenda, os chamados "cabeças-pretas". O partido vai liberar a bancada para votar como quiser sobre a denúncia contra Temer.
As eventuais delações do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e do empresário Lúcio Funaro --que devem implicar Temer-- aumentam ainda mais a preocupação entre tucanos sobre respaldar o governo.
Tasso, por exemplo, disse nesta quinta-feira que a delação de Cunha não teria "nem o que discutir mais". Se a situação deteriorar, segundo tucanos, o partido precisa calibrar o momento da saída para não ter maiores prejuízos eleitorais em 2018, quando pretende ter candidatura própria ao Planalto.
No Senado, Casa em que o apoio ao governo era mais sólido, a certeza começou a virar dúvida desde o afastamento do senador Aécio Neves das funções legislativas por decisão do STF após ser envolvido na delação da JBS (SA:JBSS3). Principal fiador de Temer, Aécio retornou ao Senado esta semana, mas ainda não ao comando do partido --nem se sabe se vai.
Ainda assim, até o momento, Aécio, o ex-chanceler e senador José Serra e Geraldo Alckmin têm se posicionado a favor da manutenção do apoio ao governo.
O dirigente do PSDB contrário ao rompimento imediato disse que ser presidente da Câmara é uma coisa, outra é ser presidente da República. "Não é um miss simpatia, tem que ser miss Brasil", cutucou, numa referência indireta a Maia.