Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente interino Michel Temer classificou de levianas, criminosas e irresponsáveis as declarações do delator Sérgio Machado e afirmou que acusações como essas não podem “embaraçar a atividade governamental”.
“Não vamos tolerar afirmações dessa natureza, um fato leviano como esse que pode embaraçar a atividade governamental", disse Temer em pronunciamento nesta quinta-feira. "Mas quero registrar que nada embaraçará nosso desejo, nossa missão, nossa tarefa de fazer que neste período em que esteja à frente da Presidência da República nós continuaremos a trabalhar em prol do Brasil.”
Machado, ex-presidente da Transpetro, acusou Temer de tê-lo procurado em busca de doações para a campanha de Gabriel Chalita à Prefeitura de São Paulo. Machado teria conseguido 1,5 milhão de reais em doações de uma empreiteira, feita oficialmente. O delator, no entanto, afirma que quem recebia os recursos sabia que eles tinham origem em propinas.
Depois de responder à acusação na quarta-feira por meio de uma nota, Temer decidiu de última hora falar à imprensa nesta manhã. Em sua declaração, afirmou que sempre responderá quando houver acusações.
“Não vamos tolerar afirmações dessa natureza", disse. “Quero revelar que quando surgirem fatos virei a público para contestá-las.”
Em sua delação, o ex-presidente da Transpetro implicou ainda toda a cúpula do PMDB, além de parlamentares do PSDB, DEM, PSB e PT, entre outros.
No final da tarde desta quinta-feira, Machado rebateu, em nota, as afirmações de Temer. Reafirmou o que havia dito aos procuradores. Garantiu que foi contatado primeiro pelo senador Valdir Raupp (PMDB-RO) e depois se encontrou com Temer na base aérea, em Brasília.
"O vice-presidente e todos os políticos citados sabiam que a solicitação seria repassada a um fornecedor da Transpetro, através de minha influência direta. Não fosse isso, ele teria procurado diretamente a empresa doadora", afirmou no texto.
Machado diz ainda que o acordo de delação prevê a obrigatoriedade de falar a verdade e não omitir nada e que a doação, feita ao diretório nacional do PT, pode ser facilmente comprovada.
O Palácio do Planalto já planejava um pronunciamento de Temer, mas em cadeia nacional de rádio e tevê, na noite desta quinta-feira ou na sexta-feira. A intenção era marcar um mês de governo, alcançado no último domingo, e falar dos problemas que recebeu ao assumir a Presidência. Temer iria falar ainda da boa relação que desenvolveu com o Congresso e das medidas que estaria tomando para recuperar a economia.
O pronunciamento foi atropelado pela delação de Machado e Temer decidiu, esta manhã, falar à imprensa para responder à delação. As questões governamentais foram tratadas rapidamente.
“Quero dizer que, ao longo deste mês, praticamos os mais variados gestos para tirar o país da crise profunda que mergulhou. Tivemos uma relação muito fértil com o Congresso. Temos hoje uma base parlamentar que revela que o país está em harmonia e ainda ontem lançamos a nova meta fiscal”, afirmou, usando parte do pronunciamento que estava sendo preparado.
O governo quer fixar por 20 anos o crescimento anual dos gastos públicos atrelados à inflação passada, com possibilidade de revisão para entrar em vigência do décimo ano, e incluiu as áreas de Saúde e Educação numa medida de arrocho que deverá ser o primeiro grande teste de Temer no Congresso.
(Reportagem de Lisandra Paraguassu)