Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - Depois da negativa do deputado Osmar Serraglio em aceitar o comando do Ministério da Transparência, o presidente Michel Temer decidiu manter o perfil mais técnico do cargo, mas deve ceder o Ministério da Cultura para a bancada do PMDB na Câmara para acalmar os deputados e manter sólido o apoio do partido na Casa, disseram à Reuters fontes governistas.
A necessidade de garantir foro privilegiado para o ex-assessor especial de Temer Rodrigo Rocha Loures, que ocupava a vaga de deputado federal no lugar de Serraglio, diminuiu com a decisão do relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, ministro Edson Fachin, de manter o inquérito de Loures atrelado à investigação do presidente.
"Com isso a urgência de dar foro a Loures diminuiu", confirmou uma fonte palaciana. Por outro lado, apesar de seu processo ainda ser mantido no STF, sem o mandato de deputado Loures pode ter sua prisão decretada a qualquer momento.
O governo chegou a cogitar nomear um dos deputados do PMDB do Paraná para o Ministério da Transparência, mas dois dos parlamentares --João Arruda e Hermes Parcianello-- são ligados ao senador Roberto Requião que, apesar de peemedebista, faz oposição a Temer. O terceiro, Sérgio Souza, não teria interesse, além de ter sido citado na operação Carne Fraca.
O caminho agora, segundo duas fontes ouvidas pela Reuters, é manter o Ministério da Transparência, Fiscalização e Controladoria-Geral da União nas mãos de uma indicação mais técnica --o que não significa que não possa ser alguém ligado ao PMDB, mas não deve, ao menos por enquanto, ser um deputado.
"De qualquer forma, a solução passa pelo PMDB da Câmara", disse uma das fontes
Depois das primeiras conversas com o presidente, o PMDB da Câmara deu indicações de que poderá aceitar o Ministério da Cultura, mesmo não tendo um nome com perfil clássico exigido para o ministério: um interesse mínimo na área e trânsito no setor. Seria uma maneira de recuperar o espaço perdido com a saída de Serraglio do Ministério da Justiça.
Chamado ao Palácio do Planalto para conversar com Temer e com o ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, o líder do PMDB na Câmara, Baleia Rossi (SA:RSID3) (SP) foi encarregado pelo presidente de negociar nomes com a bancada e levar ideias a Temer esta semana.
MÁGOA
A nomeação de um deputado para um dos dois ministérios também serviria para acalmar a bancada, irritada com o tratamento dado a Serraglio, diz uma das fontes. Até a tarde desta quarta-feira, Temer não havia falado com o deputado, seu ex-ministro. Nem para demiti-lo, nem para convidá-lo a se mudar para a Transparência.
Serraglio foi sondado para o cargo por Baleia Rossi, não por Temer, e havia ficado de dar uma resposta nesta terça, pessoalmente, a Temer. Mas o deputado divulgou sua recusa em uma nota, no final da manhã, sem falar com o Planalto.