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Temer procura porta-voz para tentar unificar comunicação do governo

Publicado 19.09.2016, 19:45
© Reuters.  Temer procura porta-voz para tentar unificar comunicação do governo

Por Rodrigo Viga Gaier e Lisandra Paraguassu

RIO DE JANEIRO/BRASÍLIA (Reuters) - O governo do presidente Michel Temer planeja recriar a figura do porta-voz da Presidência da República, confirmou nesta segunda-feira o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, em uma tentativa de unificar a comunicação do governo, que vem sendo criticada por aliados como um de seus maiores pontos fracos.

Uma série de tropeços nas últimas semanas, com informações desencontradas dadas mesmo por auxiliares próximos de Temer e ministros sendo chamados a se retratar depois de entrevistas, levaram à avaliação de que o governo está perdendo a guerra da comunicação.

Em artigo, o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) afirmou que o governo estava perdendo a "batalha da comunicação" e se limitava a conversar com o Congresso, esquecendo da sociedade. O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), disse diretamente a Temer, e repetiu em entrevistas, que era preciso mostrar "a gravidade da situação", ou o governo iria ficar com a conta de medidas impopulares.

"O presidente Temer está avaliando a conveniência de fazer uso do que fazem os regimes presidenciais clássicos, como os Estados Unidos, por exemplo, e ter um porta-voz”, disse Padilha a jornalistas em entrevista nesta segunda-feira no Rio Media Center.

Nomes já estão sendo analisados para o cargo e o governo já teria feito sondagens, disse uma fonte, mas nada foi acertado ainda.

Nesta segunda-feira, em entrevista em São Paulo, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), levantou novamente a questão, mas disse que a intenção de seu partido com as críticas era "ajudar".

"Precisa explicar melhor ao cidadão porque o Estado precisa mudar. Nosso alerta é para ajudar. Quando se deixa claro qual o problema, dá condições ao cidadão de, se era contrário às medidas, mudar de ideia", afirmou Maia.

TROPEÇOS

Internamente, a avaliação é que muita gente fala em nome do governo, nem sempre combinando antes com o Palácio do Planalto.

Foi o caso, por exemplo, do ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, quando afirmou que a reforma trabalhista poderia autorizar jornadas diárias de trabalho de até 12 horas. Nogueira levou um pito de Temer e o governo passou dias se retratando, inclusive com campanhas em redes sociais para desfazer o estrago.

Nos primeiros dias de governo, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, defendeu que o presidente não precisaria indicar o mais votado na lista tríplice feita por procuradores para o cargo de procurador-geral da República. Temer divulgou uma nota no mesmo dia desmentindo seu ministro.

Além disso, não faltam os chamados "balões de ensaio" - ideias jogadas pelo governo para ver a reação das ruas que, muitas vezes, causam ainda mais confusão. Foi o caso, por exemplo, da ideia de unificação das Previdências de servidores civis e militares, levantada por ninguém menos do que Padilha, um dos homens mais próximos ao presidente. A reação dos militares fez o governo se desdizer em seguida.

O Planalto tem feito sessões de "media training" - atividades para ensinar os ministros a falar com a imprensa - mas nem todos aceitam as instruções. O ministro da Justiça, por exemplo, resiste à ideia, contou uma fonte palaciana.

A figura clássica do porta-voz foi usada pela última vez de forma efetiva no governo de Fernando Henrique Cardoso, que teve dois embaixadores - Sérgio Amaral e depois Georges Lamaziére - no cargo.

Luiz Inácio Lula da Silva teve no cargo André Singer, mas que trabalhou efetivamente como porta-voz por um período curto. Depois, apesar do cargo, funcionava mais como um secretário de Comunicação.

O mesmo aconteceu com o jornalista Thomas Traumman durante o governo de Dilma Rousseff. Apesar do título, Traumman raramente dava entrevistas, preferindo repassar informações de bastidores, o que criava uma disputa com a então ministra da Secretaria de Comunicação da Presidência, Helena Chagas. Traumann terminou por acumular os dois cargos com a saída de Helena do governo.

Temer rebaixou o status da Secom, tirando o poder de ministério, e colocou-a nas mãos do jornalista Márcio Freitas, seu assessor há 14 anos.

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