Por Patricia Zengerle e Arshad Mohammed
WASHINGTON (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, criticou o ex-diretor do FBI James Comey, a quem chamou de "exibido" e "pretensioso" nesta quinta-feira, mesmo dia em que o chefe interino da Polícia Federal norte-americana contradisse o relato presidencial segundo o qual o FBI estava tumultuado antes de ele demitir Comey.
Ao prestar depoimento ao Comitê de Inteligência do Senado, o diretor interino do FBI, Andrew McCabe, prometeu relatar ao colegiado qualquer ingerência da Casa Branca na investigação que sua agência realiza sobre uma possível interferência da Rússia na eleição de 2016.
McCabe não quis afirmar se alguma vez ouviu Comey dizer a Trump que o presidente não era alvo do inquérito sobre o possível conluio entre Moscou e a campanha presidencial de Trump do ano passado.
McCabe testemunhou no lugar de Comey, que Trump demitiu abruptamente da diretoria do FBI na terça-feira, uma ação que sacudiu Washington. Democratas acusam o presidente republicano de tentar impedir a apuração do FBI sobre as ações russas e muitos pediram que um procurador especial analise o assunto.
"Ele é um exibido. Ele é um pretensioso. O FBI está tumultuado", disse Trump à rede NBC News em sua primeira entrevista desde que despediu Comey. "Eu ia demitir Comey. Minha decisão", afirmou. "Eu ia demitir independentemente de uma recomendação".
Trump disse à NBC News que ele nunca pressionou Comey a largar a investigação do FBI, acrescentando: "Se a Rússia fez alguma coisa, eu quero saber". Trump afirmou ainda que não havia "conluio entre mim e minha campanha e os russos", e acrescentou que "os russos não afetaram a votação".
O testemunho de McCabe contradisse a avaliação de Trump a respeito de um tumulto na agência sob o comando de Comey.
"Também posso lhes dizer que o diretor Comey contava com um apoio amplo dentro do FBI e ainda conta até hoje", disse.
"Posso lhes dizer que tenho o maior respeito pelo diretor Comey por suas habilidades consideráveis e sua integridade", acrescentou McCabe. "E foi o maior privilégio e honra de minha vida profissional trabalhar com ele".
O presidente republicano do Comitê, Richard Burr, perguntou a McCabe se ele alguma vez ouviu Comey dizer a Trump que este não era tema da investigação. McCabe saiu pela tangente, dizendo que não poderia comentar um inquérito em andamento.
Na carta em que demitiu Comey, Trump escreveu: "Embora eu seja muito agradecido por você me informar, em três ocasiões diferentes, que não estou sob investigação, eu mesmo assim concordo com a avaliação do Departamento de Justiça de que você não é capaz de liderar a agência eficazmente".
McCabe disse não ser uma prática habitual dizer a uma pessoa que ela não é alvo de uma investigação.
"É minha opinião e crença que o FBI irá continuar a conduzir esta investigação vigorosa e completamente", afirmou o diretor interino, acrescentando que não vê nenhuma "crise de confiança dentro da liderança do FBI".
Em um relatório de janeiro, agências de inteligência dos EUA concluíram que o presidente russo, Vladimir Putin, ordenou uma ação para atrapalhar a eleição que incluiu a invasão cibernética e o vazamento de emails do Partido Democrata com a meta de ajudar Trump.
Moscou nega tal interferência, e o governo Trump refuta as alegações de conluio com a Rússia.
O democrata mais graduado do Comitê de Inteligência do Senado, Mark Warner, disse que, em virtude da demissão de Comey, "é importante reafirmar a importância crítica de se proteger a independência e a integridade das forças federais de aplicação da lei".
(Reportagem adicional de Susan Heavey, David Alexander e Susan Cornwell)