Por Humeyra Pamuk e Nick Tattersall
ISTAMBUL (Reuters) - A Turquia irá anunciar medidas de emergência nesta quarta-feira para tentar dar mais estabilidade ao país e evitar danos à economia, no momento em que expurga milhares de membros das forças de segurança, do Judiciário, do funcionalismo público e das universidades após uma tentativa frustrada de golpe de Estado.
Cerca de 50 mil policiais, soldados, juízes, servidores públicos e professores foram suspensos ou detidos desde a tentativa de golpe no final de semana, o que aumentou as tensões no país de 80 milhões de habitantes que faz fronteira com a conflagrada Síria e é um aliado do Ocidente contra o Estado Islâmico.
Acadêmicos foram proibidos de viajar ao exterior nesta quarta-feira, o que uma autoridade turca disse ser uma medida temporária para evitar que supostos mentores do golpe nas universidades fujam. A emissora estatal TRT relatou que 95 acadêmicos foram afastados de seus cargos só na Universidade de Istambul.
"As universidades sempre foram cruciais para as juntas militares na Turquia, e se acredita que certos indivíduos estejam em contato com células dentro dos militares", disse uma autoridade do governo.
O presidente turco, Tayyip Erdogan, culpa uma rede do clérigo Fethullah Gulen, residente nos Estados Unidos, pela tentativa de golpe da noite de sexta-feira, durante a qual mais de 230 pessoas foram mortas enquanto soldados usavam caças de combate, helicópteros militares e tanques para tentar derrubar o governo.
Erdogan prometeu extirpar o "vírus" responsável pelo complô de todas as instituições estatais. A profundidade e a escala dos expurgos causaram entre seus aliados ocidentais o temor de que Erdogan esteja tentando suprimir toda e qualquer dissidência e que opositores sem relação com o complô sejam vitimados.
O mandatário irá presidir reuniões de gabinete e do Conselho de Segurança Nacional em seu palácio nesta quarta-feira, após as quais uma série de medidas emergenciais devem ser anunciadas.
Como sinal de quão abalada a liderança turca ficou com o golpe fracassado, que levou à prisão de dezenas de generais e do assistente pessoal de Erdogan, ministros do governo e autoridades de primeiro escalão não foram informadas sobre as reuniões com antecedência.
Cerca de um terço dos cerca de 360 generais turcos em atividade foram detidos desde o golpe malsucedido, disse um segundo funcionário de alto escalão, sendo que 99 acusados aguardam julgamento e 14 outros estão detidos.
(Reportagem adicional de Orhan Coskun, Humeyra Pamuk, Can Sezer e David Dolan)