Por Maria Carolina Marcello, Lisandra Paraguassu e Leonardo Goy
BRASÍLIA, 17 Abr (Reuters) - O plenário da Câmara dos Deputados votava neste domingo o pedido de abertura de processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, com a balança das expectativas pendendo para vitória dos favoráveis ao impedimento da petista.
A previsão é de que a votação, que será nominal com cada voto sendo declarado pelos deputados, dure em torno de quatro horas.
Após 227 votos, havia 179 favoráveis ao impeachment, 45 contráris e três abstenções.
Para o pedido de impeachment ser aprovado pela Câmara, é preciso 342 votos favoráveis ao impedimento, ou dois terços dos 513 deputados.
Se aprovado pela Câmara, o pedido de abertura de processo de impeachment irá ao Senado, que poderá rejeitar e arquivar o caso ou autorizar a instalação do processo, cenário que implicaria no afastamento de Dilma do cargo por até 180 dias, período em que o vice-presidente Michel Temer (PMDB) assumiria a Presidência da República interinamente.
GOVERNISTAS DESANIMADOS
O clima entre os governistas era o pior possível pouco antes do início da votação. Apesar de o Palácio do Planalto ainda tentar passar otimismo, apostando nas ausências, parlamentares afirmavam que a situação era “muito difícil”.
“De sexta-feira para cá a situação ficou muito pior para o governo”, admitiu um parlamentar governista.
No outro lado, a conta dos peemedebistas era de algo entre 360 e 370 votos favoráveis ao impeachment, depois da ofensiva de sábado.
“Os 360 são o nosso centro da meta. Pode ser um pouco mais ou um pouco menos”, disse o senador Romero Jucá (PMDB-RR).
O tempo inicial da sessão foi dado ao relator do parecer da comissão especial favorável à admissibilidade do processo de impeachment contra Dilma, deputado Jovair Arantes (PTB-GO).
"Elaborei meu relatório com seriedade e isenção, em respeito à Constituição e às leis brasileiras", disse Jovair. "A democracia não se limita a contar votos, não se pode tudo apenas porque foi eleito pelo voto popular."
Dilma é acusada de ter editado decretos de suplementação orçamentária sem autorização do Congresso e de ter seguido em 2015 com a prática das chamadas pedaladas fiscais --atraso nos repasses do Tesouro Nacional para bancos públicos para o pagamento de programas do governo--, rejeitadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
No tempo reservado aos partidos, a maior parte dos oradores se pronunciou a favor do impeachment. Mas as interrupções aconteceram tanto de um lado como de outro.
“Os brasileiros que estão lá fora querem viver num Brasil decente e livre da impunidade, que volte a ter esperança e oportunidade”, disse o líder do PSDB, principal partido de oposição ao governo, Antonio Imbassahy (BA).
Já o líder do PT, partido de Dilma, Afonso Florence (BA), procurou fazer uma associação do impeachment com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), alvo de inquéritos na operação Lava Jato, que investiga um esquema bilionário de corrupção.
“Pode até ser de oposição ao governo Dilma, mas rejeite Eduardo Cunha. A chapa Temer-Cunha não pode passar, não passará neste plenário”, disse Florence.
A votação deste domingo acontece em meio à grave crise econômica e política, aumento do desemprego, inflação elevada e desequilíbrio das contas públicas.
Com baixíssima popularidade, fraco apoio do Congresso e tendo a Lava Jato como um fator imponderável permanente, o governo Dilma está virtualmente paralisado, sem conseguir encaminhar qualquer agenda positiva no Congresso para tirar o país da recessão.