De Xangai a Nova York, pouco mais de 300 mil brasileiros votaram no primeiro turno das eleições gerais no exterior e são esperados para voltar às urnas neste domingo, dia 30. A participação foi maior do que no pleito de 2018, quando cerca de 200 mil pessoas compareceram aos colégios eleitorais fora do País. Ainda assim, a elevada taxa de abstenção continua sendo um dos principais obstáculos da votação no exterior e pode aumentar no segundo turno.
O número de brasileiros com domicílio eleitoral fora do Brasil e que compareceu às urnas no primeiro turno representa menos da metade daqueles aptos a votarem nas eleições gerais de 2022, de mais de 697 mil pessoas, conforme dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A taxa de abstenção chegou a 56,24%. No Brasil, considerada elevada, foi de 20,89%.
A dificuldade de convencer os brasileiros que residem no exterior a votar reflete, dentre outros motivos, a baixa quantidade de zonas eleitorais distribuídas fora do País. Assim, além da questão do deslocamento, os colégios eleitorais acabam por receber uma quantidade grande de pessoas, o que causa a formação de filas, como ocorreu no primeiro turno em diferentes países.
No primeiro turno, as filas em Nova York davam a volta em todo o quarteirão da Cathedral High School, na região central de Manhattan, única zona eleitoral disponível. A cena se repetiu em outros locais dos Estados Unidos e também na Europa, como Lisboa, em Portugal, Zurique, na Suíça, além de Londres, na Inglaterra.
Diante das cenas de longas filas no primeiro turno, o Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal (TRE-DF), responsável pelas eleições no exterior, em conjunto com o Tribunal Superior Eleitoral e o Ministério das Relações Exteriores adotaram medidas como a substituição de urnas que apresentaram problemas e ainda o envio de equipamentos de contingência.
"O procedimento proporcionará maior agilidade na expectativa de que se formem menos filas nos locais de votação", diz o presidente do TRE-DF, Desembargador Roberval Belinati. Para o segundo turno, foram enviadas 95 urnas aos colégios eleitorais no exterior para substituir aquelas que tiveram intercorrência no dia 2 de outubro. A maior parte, 27 no total, foi destinada aos Estados Unidos, seguidos por Portugal e Japão, que receberam nove, e Canadá, com 8.
Outras 125 urnas de contingência foram destinadas às zonas eleitorais no exterior. O objetivo é evitar o uso da tradicional urna de lona e cédula de papel, que atrasam a votação e também a apuração dos votos. Fora do Brasil, só é possível votar para presidente e vice-presidente.
As eleições gerais de 2022 no exterior ocorrem em 100 países, com colégios eleitorais distribuídos em 181 cidades. Lisboa é o maior deles, com 45,2 mil brasileiros aptos a votar. Miami e Boston, nos EUA, vêm na sequência, com 40,1 mil e 37,1 mil, respectivamente.
Disputa acirrada
No primeiro turno, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi o mais votado no exterior, com 138.933 votos, ou 47,17% do total. O presidente Jair Bolsonaro (PL) obteve 122.548 votos, equivalente a 41,61% do todo. O petista venceu em Lisboa, mas perdeu para o seu rival em Miami e Boston, maiores colégios eleitorais fora do País. O cenário contrasta com o segundo turno das eleições gerais de 2018.
Na ocasião, Bolsonaro, com 131.671 votos, venceu o então candidato do PT, Fernando Haddad, com 53.730. Para bancos e especialistas internacionais, as campanhas na votação entre o primeiro e o segundo turno tornaram a corrida ao Planalto no Brasil ainda mais apertada.
O Eurasia Group, maior consultoria de risco político do mundo, inclusive, elevou novamente a probabilidade de vitória do ex-presidente Lula de 60% para 65%. O Goldman Sachs (NYSE:GS) alerta para o risco de uma maior abstenção no segundo turno, mas, sobretudo, para a forte disputa e a elevada polarização nas eleições de 2022. A maior ausência de eleitores beneficia o candidato Bolsonaro, observa o gigante de Wall Street. "O corpo a corpo no dia da eleição provavelmente determinará o resultado da eleição presidencial", conclui.