ANÁLISE-Cirurgia de Lula gera dúvidas para agenda de curto prazo do governo e perspectiva eleitoral da esquerda em 2026

Publicado 10.12.2024, 15:05
Atualizado 10.12.2024, 15:10
© Reuters. Presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto n28/11/2024 REUTERS/Adriano Machado

BRASÍLIA/SÃO PAULO (Reuters) - Uma cirurgia de emergência para aliviar uma hemorragia intracraniana levantou questões sobre a agenda de curto prazo do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e enfatizou o vácuo que ele deixaria na esquerda se não concorrer à reeleição em 2026.

Lula, de 79 anos, está no meio de seu terceiro mandato não consecutivo na Presidência e sua saúde tornou-se uma preocupação desde que uma queda no banheiro do Palácio da Alvorada, em outubro, o obrigou a cancelar algumas viagens internacionais. Ele foi levado às pressas para um hospital de São Paulo na noite de segunda-feira para drenar um hematoma de seu crânio, disseram os médicos nesta terça-feira.

O susto com a saúde de Lula, conhecido por centralizar as principais decisões políticas e negociar diretamente com parlamentares, ocorre em um momento delicado para seu governo, que está tentando aprovar um pacote de cortes de gastos e a regulamentação da reforma tributária no Congresso, um processo que tem mantido os mercados financeiros em alerta.

"A gente tem as próximas duas, três semanas, que são semanas muito críticas em termos de sobrevivência legislativa do governo. Tem que votar Orçamento, tem que votar pacote de corte de gastos, tem as discussões de reforma tributária e tudo acontecendo em um espaço muito exíguo de tempo", disse o analista político e CEO da consultoria Dharma, Creomar de Souza.

"Eu creio que nesse aspecto, o afastamento do presidente -- a gente não sabe quanto tempo vai durar esse afastamento, a gente não sabe o quanto que isso tira o presidente do jogo -- isso acaba impactando muito mal", acrescentou.

A questão mais existencial que paira sobre o PT é se Lula conseguirá concorrer à reeleição em 2026. Devido à sua saúde incerta e à idade avançada, crescem as preocupações entre os aliados sobre quem poderia ocupar seu lugar, se necessário.

Lula sugeriu em uma entrevista de TV no mês passado que gostaria de ver uma "renovação" política na próxima eleição, mas se sua candidatura for necessária para derrotar a extrema-direita, então "obviamente estarei pronto para concorrer".

O fraco desempenho do PT nas eleições municipais deste ano ressaltou, para muitos analistas, que as chances da coalizão governista diminuem se Lula não for candidato.

Para Carlos Melo, cientista político e professor do Insper, o PT não está pronto para funcionar sem a liderança de Lula: "Não em 2026, ou mesmo depois disso", disse ele.

O analista sênior para o Brasil da Medley Global Advisors, Mario Sergio Lima, foi na mesma linha.

"Por enquanto, eles estariam completamente condenados, porque Lula não tem nenhum herdeiro aparente", disse.

GUINADA CONSERVADORA

As principais perspectivas para a próxima geração da esquerda brasileira ainda parecem distantes.

Outros líderes do PT, como os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e da Educação, Camilo Santana, não têm exposição nacional, acrescentou Lima, e o eleitorado brasileiro tem se tornado mais conservador nas últimas eleições.

Isso ficou evidente nas eleições municipais deste ano, quando o PT foi derrotado por partidos de centro-direita e de direita em todo o país.

Lima disse que Lula parece ser o único líder de esquerda que pode efetivamente enfrentar um candidato conservador em 2026. "Eles não teriam ninguém. Eles precisariam realmente se reconstruir da base para cima, o que não é algo fácil e rápido de se fazer", disse ele.

André Cesar, da Hold Assessoria Legislativa, uma empresa de consultoria, disse que Lula pode em breve desaparecer do cenário político como o presidente dos EUA, Joe Biden, que tomou uma decisão chocante este ano de desistir de sua candidatura à reeleição depois de uma fraca participação em um debate televisionado.

"A esquerda no Brasil precisa se reciclar. Tem que se modernizar, tem que olhar para (o presidente Gabriel) Boric no Chile, ser mais emprendedor. Setores importantes do PT ainda não entenderam isso", disse. "A esquerda brasileira sem Lula tem que dar esse pulo."

(Reportagem de Anthony Boadle, Manuela Andreoni e Eduardo Simões)

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