Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - Depois de semanas de embates internos, o proposta de nova regra fiscal, divulgada nesta quinta-feira, deu uma primeira vitória à equipe econômica, que conseguiu garantir um desenho mais rígido do que boa parte do núcleo duro do governo desejava, ainda que tenha sido obrigada a ceder em alguns números.
Durante a negociação interna, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, enfrentou uma dura oposição formada pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa, a ministra de Gestão, Esther Dweck, e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann - de todos, a mais vocal nas suas críticas, antes mesmo do desenho ter sido finalizado.
Ainda sem saber do que se tratava o arcabouço fiscal, deputados petistas mais radicais já diziam que um texto que agradasse ao mercado e a empresários seria muito ruim para o governo - a proposta apresentada hoje por Haddad fez subir a bolsa e cair o dólar, em um sinal de que o mercado, de fato, a considerou boa, apesar das desconfianças remanescentes..
Já do lado de Haddad no governo, ficaram a ministra do Planejamento, Simone Tebet - chamada por ele, nesta quinta, para estar na apresentação do texto - e o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha.
A disputa era pelo tamanho do ajuste que o governo iria impor com a nova regra. O chamado grupo "desenvolvimentista" queria uma liberdade maior para o governo gastar nos primeiros anos, sob a alegação de que é preciso recuperar gastos sociais e investimentos para fazer a economia girar, conta uma das fontes ouvidas pela Reuters.
A necessidade de investimentos para alavancar a economia não é mal vista dentro da equipe econômica. No entanto, os economistas do governo defendiam a necessidade de uma regra que mostrasse o comprometimento do governo com a responsabilidade fiscal, que permitiria o corte dos juros e segurança para investidores.
Não foram poucas as reuniões em que a proposta foi dissecada, criticada, até mesmo espancada, como diz o ministro da Fazenda, mas conseguiu sair mais ou menos intacta. De acordo com as fontes ouvidas pela Reuters, o desenho apresentado nesta quinta é o mesmo colocado para o governo há três semanas, com alguns ajustes de percentuais.
O último obstáculo foi vencido na tarde de quarta-feira, quando Haddad apresentou a Lula a última versão da proposta, tendo na mesa ainda Esther Dweck, a secretária-executiva da Casa Civil, Miriam Belchior e, chamada por Lula de última hora, Gleisi Hoffmann. Do encontro, saiu a decisão do presidente de dar seu aval ao texto e autorizar o ministro a apresentá-lo a parlamentares e à imprensa.
Foi um ministro da Fazenda visivelmente feliz e orgulhoso do desenho montado por sua equipe econômica que apresentou nesta quinta a proposta a jornalistas, depois de vê-la ser elogiada por parlamentares e empresários.
Foi mais um sinal, diz uma fonte, da capacidade de Haddad negociar dentro do Parlamento - rebatendo uma das críticas que eram constantemente feitas ao ministro, de que ele não teria interlocução com o Congresso.
Daqui para frente, avaliam as fontes ouvidas pela Reuters, o embate interno acabou. Ao dar sua anuência à proposta, Lula deixou claro a seus subordinados que Haddad venceu essa batalha, mesmo que outras várias ainda venham pela frente. A mais imediata delas é finalizar com todos os detalhes que irá ao Congresso.
(Reportagem de Lisandra Paraguassu)