Com um desempenho eleitoral que frustrou lideranças e apoiadores do partido e em guerra aberta com João Amoêdo, seu ex-comandante e um de seus fundadores, o Novo começa a "recolher os cacos" e a pensar no futuro, para tentar garantir sua sobrevivência na arena política do País.
Criado em 2011 por um grupo de cidadãos sem experiência na política, para defender o liberalismo econômico, a eficiência e a moralidade na gestão pública, o Novo não conquistou o espaço imaginado por seus fundadores e enfrenta hoje, provavelmente, o momento mais difícil de sua história.
Embora tenha conseguido reeleger Romeu Zema no primeiro turno como governador de Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do País, alçando-o a virtual candidato ao Planalto em 2026, seu representante na disputa presidencial deste ano, Luiz Felipe d'Avila, recebeu apenas 560 mil votos, o equivalente a 0,5% do total, e sua representação parlamentar encolheu de oito para três deputados federais e de sete para cinco deputados estaduais.
"As eleições foram muito polarizadas e acabamos sofrendo as consequências disso. O Novo se colocou num espaço de centro-direita, numa posição crítica ao Bolsonaro e ao Lula, mas claramente não era esse o espírito dessa eleição", afirmou Eduardo Ribeiro, presidente do partido. "Por outro lado, o Zema conseguiu se reeleger muito bem. O D'Avila também nos representou muito bem, nos deu muito orgulho. Mas, de forma geral, o resultado foi bem frustrante."
MMA
Além das adversidades eleitorais, o Novo enfrenta uma disputa interna que consome parte de suas forças e dificulta a propagação de sua mensagem. Apesar de Amoêdo não ter cargo na direção do Novo desde que renunciou ao comando, em 2020, sua imagem ainda está muito ligada à legenda e suas posições conflitantes com as do partido acabam gerando ruído para os filiados e para o público externo.
A discórdia, que já vinha se acentuando nos últimos anos, com as críticas públicas de Amoêdo contra dirigentes e mandatários do Novo, ganhou contornos de uma luta de MMA com sua declaração de voto em Lula no segundo turno, dias depois de o partido divulgar uma nota em que criticava o petista e liberava o voto dos filiados.
O episódio foi a "gota d'água" para que líderes da legenda entrassem com um pedido para expulsão de Amoêdo na Comissão de Ética Partidária e levou à sua suspensão, em caráter liminar, até o órgão se posicionar sobre o caso.
"Recebi com surpresa e indignação a suspensão da minha filiação e o pedido para minha expulsão, por ter declarado voto em Lula. Apenas exerci um direito que me é conferido pela Constituição", disse Amoêdo, que entrou com notícia-crime na Justiça contra líderes partidários e signatários da ação, em seu perfil no Twitter. Ele alega que a legenda queria impedir os filiados de declarar voto publicamente.
"Nós procuramos posicionar o partido para que quem quisesse anular o voto ou votar no Bolsonaro se sentisse confortável. Ninguém poderia imaginar que alguém do calibre do João iria declarar voto em Lula, que é contra tudo o que nós defendemos", afirmou o presidente do Novo, que não revelou seu voto. "Nós temos de olhar para a frente, reconstruir o partido e esquecer o Amoêdo, deixar o Amoêdo para trás", disse D'Avila, que manteve neutralidade no segundo turno.
A perspectiva de solução do caso de Amoêdo, com a pacificação do Novo, representa, porém, apenas o ponto de partida para sua reconstrução. O trabalho de resgate envolve, de acordo com o diagnóstico partidário, a definição de como a legenda vai atuar na Câmara dos Deputados, a organização de novos diretórios, a revisão de sua governança e a renovação de seus dirigentes, no segundo semestre do ano que vem.
Bandeira
Zema já falou numa possível fusão do Novo, mas Ribeiro descarta essa possibilidade no momento. "A gente chegou a ser procurado por alguns partidos, até por indicação do governador, mas não temos interesse numa fusão." Segundo Ribeiro, o que poderá ocorrer, dependendo de como ficar a configuração de forças na Câmara, é o Novo formar um bloco com outra agremiação para reforçar a atuação parlamentar.
O partido pretende também investir na multiplicação de seus diretórios em todo o País. A empreitada é considerada essencial para viabilizar o lançamento do maior número possível de concorrentes nas eleições municipais de 2024 e garantir uma base nacional mais sólida no pleito de 2026, para turbinar seus candidatos e apoiar Zema numa eventual disputa à Presidência.
Apesar das especulações de que o governador de Minas Gerais poderá migrar para uma sigla mais forte, para ampliar suas chances na disputa, ele afirmou ao Estadão que se sente "mais confortável" no Novo hoje e não pretende deixar o partido.
De acordo com D'Avila, o Novo ainda deverá rever sua governança, para deixar claro que "não tem dono". A ideia é criar um "conselho de administração", composto por representantes do liberalismo no País, para atrair os liberais que estão dispersos em outras siglas ou sem vinculação partidária. "O redesenho da governança é que vai fazer com que essas vertentes liberais se sintam confortáveis em aderir ao Novo e vejam o partido como o único veículo capaz de transformar a bandeira liberal em bandeira política", afirmou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.