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Após prisão, grupos bolsonaristas associam Roberto Jefferson a Lula e ao PT

Publicado 25.10.2022, 13:08
© Reuters Após prisão, grupos bolsonaristas associam Roberto Jefferson a Lula e ao PT

Enquanto o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, modulava seu discurso sobre a prisão de seu aliado, ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB), indiciado pela tentativa de homicídio de quatro agentes da Polícia Federal, apoiadores do presidente defenderam a "resistência" do petebista à ordem judicial, em grupos bolsonaristas no Telegram. No fim do dia, porém, as mensagens, que a princípio eram positivas para Jefferson, deram espaço à narrativa antipetista de que o ex-parlamentar teria sido financiado pelo PT para tumultuar a reeleição do presidente.

O ataque de Jefferson aos agentes da PF em Comendador Levy Gasparian, município no Sul do Rio de Janeiro, começou a circular na internet por volta das 13h no domingo, 23. Logo após as primeiras informações do ataque do petebista contra os policiais que cumpriam uma ordem de prisão expedida pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), aliados e apoiadores do presidente foram às redes e aos grupos no Telegram defender a ação do ex-presidente nacional do PTB.

O Estadão acompanhou a repercussão do caso em três grupos de apoio à reeleição de Bolsonaro, cada um com ao menos 16 mil participantes.

No grupo "Jair Messias Bolsonaro 2022", com 18.035 mil membros, a reação em defesa a Jefferson foi imediata. Os participantes logo defenderam que o ex-deputado não deveria obedecer a ordem de prisão e argumentaram pela inocência do petebista.

A reação foi corroborada por aliados do presidente em outras redes sociais, como Instagram e Twitter - posts que foram usados pelos apoiadores para dar coro à defesa de Jefferson. Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro investigado no esquema de rachadinha na Assembleia Legislativa do Rio, o deputado federal bolsonarista Otoni de Paula (MDB-RJ) e o influenciador Rodrigo Constantino criticaram a ação da PF.

Com a repercussão negativa que começava a tomar as redes, mesmo entre setores do bolsonarismo, às 13h40, Bolsonaro repudiou o ataque de Jefferson pelo Twitter. A mensagem ainda demorou mais algumas para ser absorvida pelos apoiadores.

Às 14h59, membros dos grupos no Telegram ainda questionavam a ação da PF: "De que adianta o cidadão se armar se não pode se defender contra as arbitrariedades? Nada vale mais que a liberdade, nem a vida. Ele não fez nada de errado para ser preso", postou um usuário.

Outro, às 15h10, afirmou que "ordem absurda não se cumpre. Essa é a regra".

Entre os aliados do presidente, o discurso também era semelhante. Para Queiroz, Jefferson não é "bandido": "Basta de ordens absurdas. Deus, família e liberdade", escreveu Queiroz, em sua conta no Instagram.

Otoni de Paula publicou um vídeo dizendo que a ação da PF contra o ex-deputado era uma "covardia". Segundo o parlamentar, Bolsonaro teria determinado o envio das Forças Armadas para "proteger o nosso Roberto Jefferson", a quem chamou também de "patriota". Depois que nenhum soldado apareceu em Comendador Levy Gasparian e após Bolsonaro abandonar o então aliado, Otoni compartilhou em sua página no Facebook (NASDAQ:META) um trecho da entrevista de Bolsonaro à Record TV: "essa é a verdade".

Às 13h05, Constantino fez uma série de tuítes criticando a PF, além de chamar os agentes em serviço de "espécie de Gestapo". Posição que seria revista às 19h17, após posicionamento de Bolsonaro: "Assunto encerrado. Vamos voltar a falar sobre a CENSURA do PT".

À medida que a primeira mensagem de Bolsonaro, crítica à Jefferson, era disseminada, apoiadores do presidente passaram da euforia do apoio incondicional a questionamentos à posição do presidente. Por volta das 15h10, duas horas após o ataque, um apoiador escreveu: "Decepcionante o PR repudiando o ato de Roberto Jefferson, nesse momento vale tudo para defendermos nossa liberdade".

Outra mensagem, às 15h46, já mostrou que o episódio se transformaria em dor de cabeça para campanha do presidente. Um apoiador afirmou que "estava quase virando o voto da sobrinha".

"Eu estava quase virando o voto da minha sobrinha quando chegou essa notícia de que o Roberto atirou em policiais. Fiquei sem argumentos", escreveu.

Com a onda de repercussão negativa crescendo no domingo, Bolsonaro voltou a tentar se desvincular do aliado Roberto Jefferson em uma live ao lado do candidato ao governo de São Paulo pelo PL, Tarcísio de Freitas. Bolsonaro disse que não tinha "fotos" com Jefferson, o que logo foi desmentido nas redes sociais.

A declaração também virou assunto nos grupos bolsonaristas. Um deles, às 17h14, afirmou: "Porque o presidente foi falar que não tem foto com o Bob Jeff? Assim fica difícil".

Àquela hora do dia, a narrativa de que Jefferson era ligado ao PT já começava a circular. Por volta das 17h, a defesa incondicional de Jefferson começava a dar espaço para as críticas.

"O Jeff recebeu dinheiro do Lula pra fazer isso agora, só pode. Tô aqui tendo que convencer meus pais de novo a votarem no nosso presidente por causa dessa merda que atirou em irmão de farda", escreveu um usuário às 17h05.

Na tentativa de se descolar totalmente do caso, Bolsonaro gravou um vídeo repudiando a atitude do aliado e prestando solidariedade à ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), alvo de ofensas por parte do petebista.

No vídeo, publicado às 19h12 com o título "Prisão do criminoso Roberto Jefferson", o presidente chama o aliado de "bandido".

"Como determinei ao ministro da Justiça, Anderson Torres, Roberto Jefferson acaba de ser preso. O tratamento dispensado a quem atira em policial é o de bandido. Presto minha solidariedade aos policiais feridos no episódio", afirmou.

Às 21h19, a narrativa de que Roberto Jefferson estaria a serviço do PT já era maioria entre as mensagens enviadas nos grupos bolsonaristas. Em uma delas, o ex-deputado é classificado como uma "armadilha do PT".

"Roberto Jefferson foi mais uma ovelha negra guiada para prejudicar o presidente Bolsonaro. Armadilha montada pelo PT . Para usar na semana de eleição. E tirar o foco das pessoas", escreveu um usuário.

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