Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O Brasil irá votar pela aprovação da resolução apresentada pelos Estados Unidos ao Conselho de Segurança das Nações Unidas condenando a invasão da Ucrânia pela Rússia, disseram à Reuters duas fontes que acompanham as negociações.
Apesar de avaliar que a resolução é excessivamente dura, o governo brasileiro considerou necessária a aprovação como um gesto neste momento, mesmo ressalvando que, como a Rússia tem poder de veto no Conselho de Segurança, a resolução não terá efeitos práticos.
"Vamos apoiar a resolução e condenaremos a invasão no Conselho", disse uma das fontes. "A Rússia infringiu as regras das Nações Unidas ao invadir outro país, não pode não haver condenação desse fato."
"É mais uma questão de pressão diplomática", avaliou a segunda fonte.
A resolução proposta pelos norte-americanos afirma que o ataque russo à Ucrânia é uma violação da paz e segurança internacionais e que a Rússia cometeu um ato de agressão contra a Ucrânia e condena de forma veemente a invasão.
O texto ainda diz que a Rússia deve retirar imediatamente todas as suas forças da Ucrânia e reverter o reconhecimento das regiões separatistas de Donetsk e Luhansk.
Na manhã nesta sexta, o ministro das Relações Exteriores, Carlos França, recebeu um telefonema do secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, para tratar da resolução.
Em uma nota nas suas redes sociais, o Itamaraty informou que "os ministros discutiram o que é possível fazer para encerrar as operações militares em curso, restaurar a paz e impedir que a população civil continue a sofrer as consequências do conflito".
Na quinta-feira, França já havia conversado com a Secretária dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, Liz Truss, também sobre a resolução.
A avaliação do governo brasileiro é que a resolução é necessária para a opinião pública e para aumentar a pressão internacional sobre a Rússia, mas que é necessário abrir pontes de negociação. Nas Nações Unidas, o Brasil está conversando com outros países que hoje estão entre os membros temporários do Conselho de Segurança, como a Índia, para criar "pontes de diálogo", disse uma das fontes.
"Não adianta fazer um texto duro e não ter diálogo", completou.
Os EUA buscam o maior número favorável de votos para dar mais força à resolução, mesmo com o veto da Rússia.
O governo brasileiro avalia, ainda, que as sanções impostas pelos Estados Unidos não terão o efeito esperado porque não mexem com questões centrais para Rússia, como energia e petróleo, pelo interesse de EUA e dos países europeus. Um bloqueio do petróleo russo poderia causar um aumento ainda maior no preço internacional do barril. Além disso, a Europa depende bastante do gás russo.
Depois de declarar solidariedade à Rússia em visita a Moscou na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro evitou condenar a invasão russa em suas aparições públicas na quinta-feira.
Mesmo o Itamaraty na quinta evitou uma condenação da invasão. Em nota, o Ministério das Relações Exteriores afirmou que o Brasil acompanhava com "grave preocupação" os últimos desdobramentos na Ucrânia.