Países da América Latina e do Caribe registraram cerca de 4,6 milhões de casos de dengue só em 2024. O número, referente às 15 primeiras semanas do ano, incluindo os primeiros dias de abril, representa um crescimento de 237% em comparação ao mesmo período do ano passado.
A informação é da Opas (Organização Pan-Americana da Saúde) e foi repassada pelo especialista em arboviroses da organização, Carlos Melo. Ele participou na 5ª feira (11.abr.2024) de um seminário sobre arboviroses organizado pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), no Rio de Janeiro.
Arboviroses são doenças causadas por vírus transmitidos, principalmente, por mosquitos, como o Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya.
Casos
O grande aumento é causado pelos números da epidemia no Brasil. O país supera 3,1 milhões de casos prováveis em 2024, ou 67,4% dos registros na América Latina e no Caribe.
Em números absolutos, o Brasil é o 1º no ranking. Os países que ficam imediatamente atrás do Brasil são o Paraguai, a Argentina e o Peru, nesta ordem. Eles não passam de 200 mil casos cada.
Um dos motivos que explicam essa proeminência do Brasil é o fato de ser o país de maior população. Quando observada a incidência da dengue, ou seja, a proporção de casos em relação à população, o país figura na 2ª posição, atrás do Paraguai.
Pelos números da Opas, o Paraguai tem 2.540 casos por 100 mil habitantes, enquanto o Brasil registra 1.816. No entanto, segundo o Ministério da Saúde brasileiro, a taxa de incidência é de 1.529 por grupo de 100 mil pessoas.
A diferença se justifica pelo fato de a Opas depender do recebimento das informações para atualizá-las em sua base de dados. Isso faz com que casos prováveis eventualmente descartados sejam temporariamente incluídos na contagem. A organização explica que usa o total de casos prováveis porque, mesmo que sejam descartados, representam pacientes que impactaram serviços de atendimento de saúde.
Em relação às mortes por dengue confirmadas, o Brasil tem 1.292 registros em 2024. O país lidera o ranking de números absolutos da Opas. No entanto, em termos proporcionais, o país aparece na 9ª posição.
Mudanças climáticas
Dos 25 países cobertos pela Opas, 12 registram surtos de dengue, ou seja, registros de casos prováveis acima do projetado.
Para a Opas, uma das causas apontadas para justificar a epidemia no Brasil e surtos em outros países é o fenômeno El Niño, caracterizado pelo aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico, que pode ser o maior já registrado.
“Esse comportamento é claramente associado a uma atuação de mudança climática”, afirma Carlos Melo.
O especialista cita que até países europeus e os Estados Unidos, onde não havia surtos da doença, registram incidências da dengue. “As magnitudes vão ser totalmente diferentes de um lugar para outro, mas a gente já vê o espalhamento dessa transmissão.”
Especialistas explicam que efeitos causados pelo El Niño, como ondas de calor, estiagem em algumas regiões e temporais em outras, favorecem a proliferação do Aedes aegypti.
Estudos apontam que o mosquito transmissor fica mais ativo durante o calor. Além disso, quanto mais quente, menor é o tempo de incubação do vírus no mosquito. Assim, o inseto passa a transmitir a dengue mais rapidamente.
Soma-se a isso o fato de a estiagem aumentar a necessidade de armazenamento de água, muitas vezes de forma inadequada, propiciando o surgimento de criadouros. Esses ambientes onde o mosquito se desenvolve também aparecem com mais facilidade em consequência de temporais.
Com informações da Agência Brasil.