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Como “likes” influenciam o público e a circulação de notícias

Publicado 18.09.2023, 06:00
© Reuters.  Como “likes” influenciam o público e a circulação de notícias
META
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*Por Juan S. Morales

O uso das redes sociais tem sido associado à diminuição da saúde mental e do bem-estar, bem como ao aumento dos níveis de polarização política.

No entanto, as redes sociais também oferecem muitos benefícios, como facilitar o acesso à informação, possibilitar conexões com amigos, servir como um meio para expressar opiniões e permitir a livre circulação de notícias.

Para maximizar os benefícios das redes sociais enquanto minimizamos seus malefícios, precisamos compreender melhor as diferentes maneiras pelas quais elas nos afetam. As ciências sociais podem contribuir para essa compreensão. Recentemente, conduzi 2 estudos com colegas para investigar e desvendar alguns dos efeitos complexos das redes sociais.

Curtidas nas redes sociais e política pública

Em um artigo recentemente publicado, eu e meus co-pesquisadores (Pierluigi Conzo, Laura K. Taylor, Margaret Samahita e Andrea Gallice) examinamos como as aprovações nas redes sociais, como curtidas e retweets, podem influenciar as opiniões das pessoas sobre questões de política.

Realizamos uma pesquisa experimental em 2020 com entrevistados dos Estados Unidos, Itália e Irlanda. No estudo, mostramos aos participantes postagens de mídias sociais sobre a covid-19 e a tensão entre atividade econômica e saúde pública. As postagens pró-economia priorizavam as atividades econômicas em detrimento do fim da covid-19. Por exemplo, defendiam a reabertura de negócios, apesar dos riscos à saúde.

Por outro lado, as postagens pró-saúde pública priorizavam a eliminação da covid-19 em detrimento das atividades econômicas. Por exemplo, apoiavam a prorrogação das medidas de isolamento, apesar dos custos econômicos associados.

Manipulamos então o nível percebido de apoio dentro dessas postagens de mídias sociais. Um grupo de participantes viu postagens pró-economia com um grande número de curtidas e postagens pró-saúde pública com poucas curtidas, enquanto outro grupo viu o contrário.

Reprodução / Nieman – 2023 As pessoas foram expostas à mesma mensagem com diferentes níveis de aprovação, dependendo do tratamento. O tweet à esquerda, pró-economia, parece ser mais popular do que o tweet à direita Depois dos participantes visualizarem as postagens, perguntamos se concordavam com várias políticas relacionadas à pandemia, como restrições a aglomerações e fechamento de fronteiras.

No geral, descobrimos que o nível percebido de apoio nas postagens de mídias sociais não afetou as opiniões dos participantes, com uma exceção. Os participantes que relataram usar o Facebook (NASDAQ:META) ou o Twitter por mais de uma hora por dia pareciam ser influenciados. Para esses entrevistados, as aprovações percebidas nas postagens afetaram suas preferências políticas.

Participantes que viram postagens pró-economia com um grande número de curtidas eram menos propensos a apoiar restrições relacionadas à pandemia, como a proibição de aglomerações. Aqueles que viram postagens pró-saúde pública com um grande número de curtidas eram mais propensos a apoiar as restrições.

As métricas de mídia social podem ser um mecanismo importante através do qual ocorre a influência on-line. Embora nem todos os usuários prestem atenção a essas métricas, aqueles que o fazem podem mudar suas opiniões como resultado.

Usuários ativos de mídias sociais em nossa pesquisa também eram mais propensos a relatar engajamento político. Eles tinham mais probabilidade de ter votado e discutido questões políticas com amigos e familiares (tanto on-line quanto offline) com mais frequência. Essas métricas percebidas, portanto, também podem ter efeitos sobre a política e as decisões políticas.

A mudança nos retweets do Twitter e o compartilhamento de notícias

Em outubro de 2020, algumas semanas antes das eleições presidenciais dos Estados Unidos, o Twitter modificou a funcionalidade do botão de retweet. O botão modificado incentivava os usuários a compartilhar um “quote tweet” em vez de simplesmente retuitar, estimulando-os a adicionar seus próprios comentários.

O Twitter esperava que essa mudança encorajasse os usuários a refletir sobre o conteúdo que estavam compartilhando e desacelerasse a disseminação de desinformação e notícias falsas.

Em um recente trabalho de pesquisa, meu co-pesquisador Daniel Ershov e eu investigamos como a mudança do Twitter na interface do usuário afetou a propagação de informações na plataforma.

Coletamos dados do Twitter de veículos de notícias populares dos Estados Unidos e examinamos o que foi registrado com os retweets deles depois da implementação da mudança. Nosso estudo revelou que essa alteração teve efeitos significativos na difusão de notícias: em média, os retweets de veículos de mídia de notícias caíram mais de 15%.

Em seguida, investigamos se a mudança afetou todos os veículos de mídia da mesma maneira. Especificamente, examinamos se os veículos de mídia onde a desinformação é mais comum foram mais afetados pela mudança. Descobrimos que não foi o caso: o efeito sobre esses veículos não foi maior do que sobre os veículos de maior qualidade jornalística (e, se alguma coisa, os efeitos foram ligeiramente menores).

Uma comparação semelhante revelou que os veículos de notícias de esquerda foram afetados significativamente mais do que os veículos de direita. A queda média de retweets para os veículos liberais foi de mais de 20%, mas a queda para os veículos conservadores foi apenas de 5%. Isso ocorreu porque os usuários conservadores mudaram seu comportamento significativamente menos do que os usuários liberais.

Por fim, também descobrimos que a política do Twitter afetou as visitas aos sites dos veículos de notícias afetados, sugerindo que a nova política teve amplos efeitos na disseminação de notícias.

Compreendendo as redes sociais

Esses 2 estudos destacam que características aparentemente simples podem ter efeitos complexos nas atitudes dos usuários e na disseminação de mídia. Desvendar as características específicas que compõem as redes sociais e estimar seus efeitos individuais é fundamental para entender como as redes sociais nos afetam.

Assim como o Instagram, a nova plataforma Threads da Meta permite que os usuários ocultem o número de curtidas em suas postagens. O X, anteriormente conhecido como Twitter, acaba de lançar uma funcionalidade semelhante, permitindo que os usuários pagos ocultem suas curtidas. Essas decisões podem ter importantes implicações para o discurso político dentro da nova rede social.

Juan S. Morales é professor assistente de economia na Wilfrid Laurier University. Este artigo foi republicado do The Conversation sob uma licença Creative Commons.

Traduzido em português por Fernanda Fonseca. Leia o original em inglês.

O Poder360 tem uma parceria com 2 divisões da Fundação Nieman, de Harvard: o Nieman Journalism Lab e o Nieman Reports. O acordo consiste em traduzir para português os textos que o Nieman Journalism Lab e o Nieman Reports e publicar esse material no Poder360. Para ter acesso a todas as traduções já publicadas, clique aqui.

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