Com quase 300 nomes já anunciados por Geraldo Alckmin (PSB), coordenador da transição entre o governo de Jair Bolsonaro (PL) e o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), há perfis de diversos matizes ideológicos, trajetórias pessoais bastante distintas e curiosidades que pouco ou nada tem a ver com a capacidade técnica da equipe.
Desde 4 de novembro, início formal do processo de transição conduzido pelo vice-presidente eleito com ajuda de outro ex-tucano, os anúncios incluíram a criação de 31 grupos técnicos duas baixas (a recusa de David Uip no grupo de trabalho da Saúde e a renúncia de Guido Mantega no Planejamento) e, para comoção de todo o País, a trágica perda de Isabel Salgado, ícone do vôlei escalada para o time de Esportes na última segunda-feira.
As homenagens a ela, de Lula, que participava da COP27, no Egito, da cúpula petista e outros, marcaram o último anúncio de Alckmin sobre membros da equipe, que ainda "enfrenta" indefinições, a exemplo de quem vai conduzir o diálogo com as Forças Armadas, como mostrou o Estadão.
Não faltam polêmicas ou divergências de ideias em relação ao próprio Lula dentro da numerosa equipe. Foi o caso, nesta quinta-feira, do ex-deputado Wadih Damous (PT-RJ) e do senador eleito pelo Maranhão, Flávio Dino (PSB), que defenderam tese distinta daquela debatida pelo presidente eleito durante a campanha: desmembrar o atual Ministério da Justiça e Segurança Pública em duas pastas. Segundo Damous, seria um "equívoco" recriar o Ministério da Segurança.
Conheça esta e outras quatro curiosidades sobre alguns integrantes da equipe de transição:
Wadih Damous: Ex-deputado petista defendeu fechamento do STF
Titular do grupo de trabalho Justiça e Segurança Pública, o ex-deputado Wadih Damous já foi um crítico contumaz do Supremo Tribunal Federal (STF) e defendeu o fechamento da Corte, em 2018, quando a Justiça determinou a prisão de Lula no âmbito da operação Lava Jato e o ex-prefeito Fernando Haddad substituiu o ex-presidente na sucessão para o Palácio do Planalto.
Damous propôs a criação de uma corte constitucional e definiu Luís Roberto Barroso como o "pior ministro" da Casa. "Ou nós enquadramos essa turma ou essa turma vai enquadrar de vez a democracia brasileira", disse à época.
Barroso, que comandou o Tribunal Superior Eleitoral em meio aos ataques de Bolsonaro às urnas eletrônicas e à votação sobre a retomada do voto impresso na Câmara dos Deputados, assumirá o comando do STF a partir de outubro de 2023.
Demitido por telefone, Cristovam Buarque se reconcilia com PT depois de votar a favor do impeachment de Dilma
Demitido do ministério da Educação (MEC) por telefone enquanto estava de férias em Portugal, em 2004, Cristovam Buarque volta a ter ligação com o PT anos depois de ter participado da oposição ao partido e votado pelo impeachment de Dilma Rousseff, em 2016.
a ascensão de Michel Temer (MDB) ao Executivo, mas o passado não impediu a reconciliação. Buarque declarou voto em Lula ainda no primeiro turno e agora compõe o grupo de transição de Relações Exteriores.
Ludhmila Hajjar: A cardiologista que quase foi ministra de Bolsonaro
Membro do GT de Saúde e conhecida como "médica de famosos", a cardiologista Ludhmila Hajjar recusou um convite para ser ministra da Saúde durante a pandemia de covid-19, em março de 2021.
Ela chegou a se reunir com Bolsonaro e disse haver falta de "convergência técnica" com o presidente sobre medidas de combate à pandemia. A médica alegou ter sido alvo de ameaças de morte e de uma tentativa de invasão a um quarto de hotel pouco depois de ter seu nome foi especulado.
Glaucius Oliva: Preterido pelo ex-partido de Alckmin na USP é destaque do GT de Ciência e Tecnologia
O físico Glaucius Oliva, integrante do GT de Ciência e Tecnologia, foi apresentado erroneamente pela assessoria da equipe de transição como ex-reitor da Universidade de São Paulo. Na verdade, ele foi eleito à frente da lista de indicados, mas acabou preterido pelo então governador tucano e não chegou a comandar a universidade.
No cargo de diretor do departamento de Física, Oliva foi o candidato mais votado pela comunidade acadêmica, em 2009. À época, o governador José Serra (PSDB), entretanto, escolheu o então diretor da Faculdade de Direito, João Grandino Rodas, para assumir o cargo.
Romênio Pereira: Ex-secretário de Relações Internacionais do PT e defensor do 'processo de transformação' chavista na Venezuela
Ex-secretário de Relações Internacionais do PT, Romênio Pereira endossou o processo eleitoral em países que não tiveram a votação presidencial reconhecida pela Organização dos Estados Americanos (OEA). Ele agora compõe a transição na área de Relações Exteriores.
No secretariado, Pereira parabenizou a reeleição de Daniel Ortega, comandante nicaraguense, e disse que a eleição na Venezuela em 2020 foi uma "resposta democrática aos golpistas que conspiram, dentro e fora do país, contra o governo constitucional e o processo de transformação iniciado pelo ex-presidente Hugo Chávez".