O general Gonçalves Dias disse ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que a câmera do circuito interno posicionada para o corredor de acesso ao gabinete presidencial, no Palácio do Planalto, não estava funcionando e por isso não havia imagens daquele local durante a depredação do Palácio do Planalto, em 8 de janeiro. A explicação foi dada por G. Dias, à época ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), quando foi questionado por Lula no mesmo dia dos atos golpistas.
O presidente pediu as imagens daquela câmera específica, mas não conseguiu, segundo relato de ministros do Planalto ao Estadão. Dias depois, o chefe de gabinete de Lula, Marco Aurélio Santana Ribeiro, conhecido como Marcola, também solicitou o vídeo e obteve a mesma resposta.
O governo foi surpreendido com a divulgação das imagens, nesta quarta-feira, 19, pela CNN Brasil. A portas fechadas, Lula avaliou que G. Dias foi enganado por sua própria equipe, que era composta, em sua maioria, por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Não há no Planalto desconfiança em relação à lealdade do general, que foi chefe da segurança de Lula em seus dois mandatos, de 2003 a 2010. Mesmo assim, a avaliação é a de que G. Dias, mesmo após a troca dos subordinados, não demonstrava ter controle da equipe. Como mostrou o Estadão, as funções do GSI sob G.Dias foram pouco a pouco esvaziadas, tanto que até mesmo a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) saiu de sua alçada e passou para a Casa Civil, comandada por Rui Costa.
Para o governo, o aparecimento das imagens deu combustível para a CPMI dos Atos Golpistas, pedida pela oposição. Diante desse cenário, o governo foi obrigado a mudar de estratégia e apoiar a abertura da comissão, ficando agora nas mãos do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para fazer maioria no colegiado. É certo, porém, que a oposição vai usar essa CPMI para puxar outras, como a das invasões do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST).