Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - Os governadores de Minas Gerais, o reeleito Romeu Zema (Novo), e de São Paulo, o derrotado Rodrigo Garcia (PSDB), anunciaram nesta terça-feira apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno da disputa pelo Palácio do Planalto, em dois movimentos do candidato à reeleição para ampliar palanques estaduais nos dois maiores colégios eleitorais do país.
Ao lado do presidente, que cumpre sua primeira agenda fora da capital no segundo turno, Garcia também anunciou apoio ao candidato bolsonarista ao governo paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
"Apoio incondicional ao presidente Bolsonaro e ao Tarcísio", disse Garcia em São Paulo, onde Bolsonaro participará de eventos de evangélicos.
Garcia, que era vice de João Doria (PSDB), desafeto de Bolsonaro, assumiu o governo paulista em março, com a renúncia de Doria, que tentou sem sucesso viabilizar uma candidatura à Presidência.
Bolsonaro agradeceu o apoio, afirmando que era "muito bem-vindo", e disse ter "políticas complementares" às do tucano, embora a relação do governo federal sob Bolsonaro com o governo paulista sob João Doria, que tinha Garcia como vice e como secretário de governo, tenha sido de embates e tensionamento constantes, especialmente durante o auge da pandemia de Covid-19.
Bolsonaro teve 1,7 milhão de votos a mais que Lula no primeiro turno em São Paulo, maior colégio eleitoral do país.
Mais cedo, Bolsonaro havia dito que planejava ir pelo menos duas vezes ao Estado no segundo turno.
Aliados do presidente tiveram importantes votações no primeiro turno. Tarcísio Freitas vai para o segundo turno ao governo paulista após terminar na frente do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT), além do ex-ministro Marcos Pontes (PL) ter sido eleito senador superando o ex-governador Márcio França (PSB), que aparecia em primeiro nas pesquisas de intenção de voto ao cargo.
MINAS GERAIS
Mais cedo, Romeu Zema também anunciou apoio a Bolsonaro no segundo turno após se encontrar com o candidato à reeleição no Palácio da Alvorada, e criticou a administração petista que o antecedeu no governo mineiro.
"Estou aqui hoje para declarar apoio ao presidente Bolsonaro porque eu --mais do que ninguém-- herdei uma tragédia", disse Zema.
Minas Gerais é o segundo maior colégio eleitoral do país e Estado em que Lula superou Bolsonaro por pouco mais de 563 mil votos. O candidato à reeleição teve 43,6% dos votos válidos no Estado no domingo, e o petista ficou com 48,29%. Desde a redemocratização, todos os presidentes eleitos venceram em Minas Gerais.
Em sua fala, Bolsonaro disse que o apoio de Zema é decisivo.
"Agradeço aqui o apoio do Zema, é mais do que bem-vindo, é essencial para a nossa reeleição", destacou.
O presidente disse que pretende ir a Minas Gerais ao menos três vezes durante o segundo turno e afirmou que, embora tivesse um candidato ao governo mineiro no primeiro turno, o senador Carlos Viana (PL), sempre teve simpatia por Zema. Ele avaliou que o governador reeleito fez um bom governo.
Bolsonaro encerrou a eleição no primeiro turno 6,2 milhões de votos atrás de Lula, um resultado de cinco pontos percentuais de diferença e que surpreendeu diante do fato de que pesquisas de intenção de voto nacionais indicavam uma distância maior de ambos e até a possibilidade de o petista vencer já no domingo.
OUTROS APOIOS
Na entrevista ao lado de Zema, Bolsonaro afirmou que já trabalha por outros apoios no segundo turno. Ele disse ter conversado por telefone com os governadores reeleitos em primeiro turno de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), e do Paraná, Ratinho Junior (PSD).
A intenção do QG da campanha, segundo uma fonte, é fazer um ataque regional em busca de candidatos que já venceram no primeiro turno ou estão na disputa para o segundo turno em detrimento da busca por conversas com direções partidárias --a estratégia de Lula até o momento.
"A realidade regional pode ter mais peso do que a realidade partidária na cabeça do eleitor", destacou essa fonte.
No início da tarde, o governador do Rio reuniu-se com Bolsonaro no Palácio do Planalto e, após o encontro, fez questão de declarar publicamente apoio ao presidente.
"Sou do partido do presidente, sou apoiador do presidente e não tinha como não vir aqui para me esforçar para que o Rio de Janeiro seja a capital da vitória do Bolsonaro", disse.
Castro afirmou que vai para as ruas pedir votos para Bolsonaro, justificando o pouco empenho no primeiro turno pelo fato de que, como governador, tinha que estadualizar a eleição no Rio de Janeiro.
Para Bolsonaro, a "oficialização do apoio que já existia" é mais um fator de tranquilidade para sua campanha. Ele já havia afirmado que estava fechado o apoio de Castro.
Mesmo sendo do mesmo partido, os dois tiveram poucas agendas em comum no primeiro turno. No Rio de Janeiro, terceiro maior colégio eleitoral do país, Bolsonaro recebeu cerca de 1 milhão de votos a mais do que Lula no primeiro turno.
O presidente disse ainda estar à disposição para conversar com ACM Neto (União Brasil), que disputará o segundo turno ao governo baiano contra Jerônimo Rodrigues (PT).
ACM Neto preferiu ficar neutro na primeira etapa em um Estado --quarto maior colégio eleitoral do país-- que deu quase 70% dos votos para Lula. Em números nominais, foi uma diferença de 3,8 milhões de votos para o petista.
MORO
Nesta terça, o ex-juiz da Lava Jato e ex-ministro da Justiça Sergio Moro, que se elegeu senador no domingo pelo União Brasil, também anunciou apoio a Bolsonaro.
"Lula não é uma opção eleitoral, com seu governo marcado pela corrupção da democracia. Contra o projeto de poder do PT, declaro, no segundo turno, o apoio para Bolsonaro", disse ele, em postagem no Twitter.
Questionado sobre esse apoio, o presidente sinalizou positivamente. "Está superado tudo, é daqui pra frente um novo relacionamento", disse ele, durante a entrevista ao lado do governador do Rio.
Após ficar internacionalmente conhecido pela Lava Jato, investigação que levou à prisão de Lula, Moro deixou a magistratura e entrou para o governo Bolsonaro. No entanto, saiu em abril de 2020 acusando o presidente de tentar interferir na Polícia Federal.
Filiado inicialmente ao Podemos, o ex-juiz ensaiou até mesmo uma candidatura presidencial, mas preferiu mudar para o União Brasil, legenda que não deu guarida a sua investida pelo Planalto, mas pela qual se elegeu para o Senado pelo Paraná.
(Reportagem adicional de Eduardo Simões, em São Paulo, e Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro)